Entenda como e porque o Burnout e o Quiet Quitting estão crescendo rapidamente no mundo do trabalho – e o que isso revela sobre erros de gestão, cultura corporativa e saúde mental nas empresas.
Nos últimos anos, duas palavras tem se tornado frequentes nas conversas entre profissionais do mundo todo, especialmente entre as novas gerações que estão cada vez mais antenadas em seus direitos e obrigações dentro do mundo corporativo.
As novas gerações tem deixado de lado uma velha crença que as antigas gerações tem de que se deve trabalhar até adoecer. Essas mesmas pessoas que foram trabalhadores sobrecarregados, hoje são gestores que acreditam que todos devem fazer o mesmo para alcançar sucesso profissional. Mas isso não é verdade.
O Burnout e o Quiet Quitting são expressões que surgiram nos últimos anos para definir o que inúmeros trabalhadores vivem desde que o mundo é mundo dentro de uma rotina de trabalho abusiva que adoece.
À primeira vista, essas duas palavras podem parecer opostas — uma fala de esgotamento extremo, a outra de afastamento silencioso. Uma parece o grito final de quem chegou ao seu limite, e a outra, uma espécie de recuo tácito, um silêncio calculado.
Mas ambas, se observadas com atenção, apontam para o mesmo diagnóstico: algo está profundamente errado com a forma como lidamos com trabalho, saúde mental e performance.

O esgotamento profissional é real
Se você ainda trata esses termos como modinhas da internet ou “frescura de geração nutella”, este texto é pra você. E se você já viveu na pele o esgotamento ou sentiu a necessidade de se desligar emocionalmente do trabalho para sobreviver, ele também é.
Neste artigo, vamos entender em profundidade o que significam os termos Burnout e Quiet Quitting, o que eles tem em comum, como afetam especialmente pessoas neurodivergentes e, sobretudo, o que isso tudo exige de quem quer construir ambientes de trabalho minimamente humanos.
O objetivo aqui não é adoçar a realidade com soluções simplistas ou frases motivacionais — é encarar o problema com lucidez e coragem. Porque na prática nós já entendemos que fingir que está tudo bem é parte do que nos adoeceu até aqui.
O que é Burnout?
Burnout é um estado de esgotamento físico, mental e emocional causado por exposição prolongada a estresse no trabalho. É o corpo e a mente entrando em colapso depois de serem exigidos além do limite por tempo demais, sem espaço para descanso, sem reconhecimento real e, muitas vezes, com cobranças que ignoram a realidade humana do profissional.
Não se trata de um “dia ruim” ou de estar “sem energia” — é uma condição crônica que pode paralisar.
A Organização Mundial da Saúde reconhece oficialmente o burnout como um fenômeno ocupacional, caracterizado por três dimensões principais:
- Uma sensação de exaustão constante, que não melhora com um fim de semana de descanso
- Uma atitude de cinismo, distanciamento ou negativismo em relação ao trabalho
- Uma percepção de ineficácia, de que nada do que se faz é suficiente
O burnout é muitas vezes romantizado por pessoas que acreditam que o sucesso só é alcançado com o esgotamento. Pessoas que estão claramente destruídas emocionalmente pela pressão da rotina continuam sendo vistas como exemplos de dedicação. Elas são promovidas, parabenizadas, recompensadas e citadas com orgulho: “Fulano vive no trabalho”, dizem como se isso fosse um elogio.
Mas a verdade é simples: uma pessoa que vive de trabalho não é uma pessoa emocionalmente estável, e se não houver uma pausa, essa pessoa irá quebrar mentalmente.
Ambientes que exigem mais do que entregam e que glorificam a urgência constante colocam metas acima de limites que operam sob a lógica da escassez e da substituibilidade, onde descanso é pecado e pedir ajuda é visto como incompetência, adoecem todos os profissionais que ali se encontram.
O que é Quiet Quitting?
Quiet Quitting ou “demissão silenciosa” é quando alguém decide fazer apenas o mínimo necessário exigido por seu cargo, sem abrir mão do contrato formal, mas se desligando do “contrato psicológico” que espera dedicação emocional, tempo extra, proatividade ininterrupta, disponibilidade fora do expediente e um certo entusiasmo performático que o ambiente pede.
Essa decisão pode vir de vários lugares (consciente e inconscientemente) do cansaço acumulado, da falta de reconhecimento, da percepção de que não há futuro naquela organização, da tentativa de equilibrar vida pessoal e profissional, ou mesmo da constatação de que entregar mais não traz retorno proporcional.
Quiet quitting não é desleixo e não é preguiça. Na verdade, ele está mais ligado a um mecanismo de defesa que age contra uma rotina exaustiva. Uma tentativa de manter a sanidade quando tudo ao redor exige uma performance constante.
Em um mundo que cobra entregas de corpo e alma – e muitas vezes não há recompensas por isso-, quem se preserva é visto como rebelde. E talvez seja mesmo. Mas rebelde por sobrevivência, não por apatia.
Burnout e Quiet Quitting tem a mesma origem
Apesar de parecerem opostos — um extremo de ativação, outro de retração — burnout e quiet quitting nascem do mesmo solo: a cultura do excesso, da pressa e do nunca se sentir suficiente.
Ambientes corporativos que confundem comprometimento com sacrifício pessoal, que premiam quem responde mensagens à meia-noite, naturalizam a escassez de equipe como sinal de eficiência, que tratam licenças e pausas como um problema que não deve se repetir e que colocam a responsabilidade do bem-estar nas costas dos funcionários, enquanto mantem estruturas que sabidamente causam doença. São as responsáveis pela perpetuação de uma estrutura que escolhe adoecer os funcionários ao invés de acolher.
Empresas que operam assim estão criando o terreno perfeito tanto para o colapso (burnout) quanto para o desligamento emocional (quiet quitting). A diferença é o momento em que cada um se manifesta.
Ambos são sinais de alerta. Ambos denunciam uma estrutura que não sabe lidar com o humano — apenas com o executável.
O impacto nas pessoas neurodivergentes
Agora vamos puxar um fio que raramente é tratado com a seriedade necessária: como as pessoas neurodivergentes que estão no mercado de trabalho enfrentam esses fenômenos?
Pessoas com autismo, TDAH, dislexia, altas habilidades, fobia social, hipersensibilidade ou outras condições que envolvem funcionamentos neurológicos diversos já enfrentam um desafio adicional: trabalhar em ambientes pensados para um modelo cognitivo específico, linear e socialmente padronizado.
Para pessoas neuroatípicas o custo de produzir em ambientes assim é, muitas vezes, exponencial.
São contextos que exigem multitarefas constantes, adaptabilidade social irrestrita, rapidez de resposta, tolerância a ruídos, participação em reuniões mal conduzidas, interpretação de normas implícitas, comunicação performática, e outras exigências que não têm relação direta com a entrega de valor, mas que definem a “aceitação social” do profissional.
O resultado? Burnout chega mais cedo e o Quiet quitting vira estratégia de sobrevivência.
Pessoas neurodivergentes estão tentando existir em espaços que nunca foram projetados para seus modos de operar. E o mais cruel: ainda são cobradas por não se adaptarem, como se o problema fosse exclusivamente delas.
O que os gestores de 2025 precisam entender é que o problema está na estrutura. Um ambiente padronizado nos moldes de produção sob pressão não é capaz de comportar a diversidade de formas de pensar, sentir e produzir – e muito menos de crescer de forma orgânica e saudável para todos os colaboradores. Suas metas não serão alcançadas se seus colaboradores estiverem no limite da saúde mental.
É necessário que os gestores entendam que enquanto isso não mudar, vamos continuar perdendo talentos, adoecendo pessoas e chamando isso de “mercado exigente”.
Como mudar esse cenário?
Chegamos na parte mais importante: o que fazer diante desse cenário?
Se você lidera uma equipe, uma empresa ou apenas sua própria carreira, há algumas mudanças importantes que podem ser feitas. Não estamos falando de soluções milagrosas, mas de ajustes intencionais que tornam o ambiente menos hostil e mais viável para um trabalho mais humano.
1. Pare de romantizar o esforço extremo
Trabalho bom é trabalho que dá frutos e faz o colaborador crescer junto da empresa. Ninguém deveria precisar se sacrificar para ser valorizado e se alguém só é notado quando passa do limite, algo está errado com os critérios de reconhecimento e valorização desse trabalhador.
2. Adote metas claras e realistas
Ambiguidade de direcionamentos e excesso de tarefas são venenos que tomam conta da rotina silenciosamente. Quando tudo é prioridade, nada é. Quando as metas se tornam inalcançáveis, a frustração é inevitável.
3. Dê autonomia de verdade
Não adianta falar de confiança e controlar tudo por microgestão. Pessoas adultas precisam de espaço para tomar decisões, experimentar caminhos, ajustar rotas. Sem isso, o trabalho se torna robótico e sem alma, e a empresa começa a perder sua autonomia e sua cara.
4. Pratique escuta ativa e empática
No ambiente corporativo, é comum que as pessoas não gritem por ajuda, e sim que se calem ou simplesmente saiam. Procure essas pessoas, ouça elas demonstrando estar realmente aberto a esse contato, não como apenas uma atitude de preocupação formal. Esteja disposto a mudar com base no que ouve.
5. Redesenhe o trabalho para incluir diferentes modos de funcionamento
Flexibilidade, acessibilidade e respeito aos tempos individuais devem ser pilares de todos os ambientes de trabalho que visam criar um lugar que faça os colaboradores se sentirem parte de verdade. Um trabalho adaptado não é menos exigente. É mais justo.
6. Cuide da cultura organizacional como quem cuida de gente
Cultura não é só o que está escrito no mural da empresa, ela é principalmente o que se repete no dia a dia. É como as pessoas são tratadas quando falham, como elas são ouvidas e compreendidas quando pedem tempo, como as opiniões delas são levadas em conta quando discordam e como as conquistas delas são reconhecidas.
7. Crie espaços de pausa
Ao contrário do que muitos gestores pensam, os intervalos não são matança de tempo, eles são partes do trabalho. Quem não descansa, não pensa e não recompensa. Quem não pensa, não cria. Quem não cria, repete. E repetir, num mundo em transformação, é receita de obsolescência.
Entenda de uma vez por todas
Esses dois fenômenos que acontecem com pessoas exaustas são sintomas de um sistema de trabalho que ainda insiste em operar como uma máquina de moer gente.
Um sistema que premia o excesso, romantiza a exaustão e chama de “resiliência” o que muitas vezes é só silêncio com medo de retaliação.
Mas se você chegou até aqui, é porque talvez esteja sentindo que tem algo fora do lugar. E a verdade é que tem mesmo.
Não dá mais para aceitar uma cultura que trata saúde mental como pauta de palestra de fim de ano, enquanto os indicadores de adoecimento disparam. Não dá para ignorar a neurodiversidade das equipes, fingindo que todo mundo aprende, entrega e interage da mesma forma. E não dá para cobrar inovação de times que mal conseguem respirar.
Como a Braine pode te ajudar
É aí que entra a Braine.
A gente nasceu com um propósito claro: fazer da neurodiversidade uma força propulsora para o futuro do trabalho – e não mais um tabu empurrado para debaixo do tapete corporativo. Acreditamos que pessoas pensam de formas diferentes, e que isso não é um problema a ser corrigido, mas um ativo a ser reconhecido, cultivado e valorizado.
Nosso trabalho é transformar o modo como empresas lidam com o que antes era chamado de “desvio” ou “transtorno”.
Criamos ferramentas e soluções baseadas em inteligência artificial para apoiar diagnósticos mais ágeis e rotinas personalizadas de desenvolvimento que incluam e respeitem as singularidades cognitivas de cada pessoa.
Nossos produtos
Já ficou mais do que claro para todos nós que o Burnout e o Quiet Quitting são respostas a um modelo de trabalho que esgota, silencia e, muitas vezes, exclui. São consequências de uma lógica que prioriza resultados a qualquer custo e que ainda não conseguiu enxergar plenamente que a diversidade humana é na verdade um recurso poderosíssimo para o avanço da sociedade e dos seus meios de trabalho.
É nesse cenário que acreditamos que os nossos produtos Aura-T e Bruna podem ajudar as pessoas a desacelerarem, a pensarem no que pode ser melhorado em suas rotinas e a descobrirem um diagnóstico nunca antes procurado.
Aura-T
O Aura-T é uma ferramenta baseada em inteligência artificial que realiza diagnósticos rápidos e precisos para identificar padrões de neurodivergência, oferecendo uma visão mais clara e objetiva das necessidades cognitivas de cada colaborador.
Ele não apenas facilita o reconhecimento de condições como TDAH, autismo e dislexia, mas também oferece insights valiosos para que as empresas possam construir equipes mais inclusivas e eficientes.
O Aura-T vai além do diagnóstico: ele sugere planos personalizados de adaptação e desenvolvimento para cada pessoa, permitindo que o potencial de todos seja potencializado dentro do ambiente de trabalho.
Bruna
Já a Bruna é nossa IA de campo — criada para estar onde a teoria falha: no cotidiano real de quem lida com crises. Ela foi pensada para acompanhar de perto a pessoa neurodivergente, seus familiares e cuidadores, funcionando como um radar ativo. Enquanto o mundo ignora os sinais que vêm antes da tempestade, a Bruna está ali, captando, interpretando e agindo.
Ela identifica padrões, antecipa riscos e propõe intervenções práticas baseadas no perfil único de cada pessoa.
A Bruna não substitui ninguém. Ela soma. É tecnologia que apoia, previne e oferece caminhos mais inteligentes para que gestores compreendam o que muitas vezes passa despercebido.
A Braine pode ajudar todos
Se Burnout e Quiet Quitting são alertas de um sistema em colapso, a Braine está aqui para redesenhar esse sistema com tecnologia, com escuta ativa, e principalmente, com coragem para fazer diferente.
Oferecemos consultorias, conteúdos estratégicos e treinamentos que desafiam o status quo e mostram, com pragmatismo e base científica, que a diversidade precisa ser incluída em todas as áreas, pois ela pode gerar muitos frutos para o crescimento do mercado brasileiro e do mundo.
Porque o futuro do trabalho precisa de resultados, mas ele também precisa de pessoas que se sintam pertencentes ao seu ambiente de trabalho, saudáveis, atuando bem dentro da sua diversidade para dar o seu melhor em seus projetos. Isso sim vai mudar o mundo.
Se você quer construir um futuro mais inclusivo, mais humano e mais inteligente, comece por aqui:
- Questione o normal
- Escute os sinais
- Redesenhe estruturas
- Seja rebelde e sábio
Quer saber mais sobre a Braine?
Na Braine, não falamos de inclusão como tendência: ela é a base do que construímos todos os dias. Nossos projetos combinam ciência, tecnologia e empatia para criar soluções reais para pessoas neurodivergentes e para os ambientes onde elas vivem, aprendem e trabalham.
Por isso convidamos você para participar do no nosso Encontro de Informação e Saúde: Neurodiversidade 2025 em junho
Acesse o site da Braine, conheça nossos projetos e descubra como nossos produtos estão sendo desenvolvidos com o objetivo de auxiliar no diagnóstico e tratamento de pessoas neurodivergentes por todo o mundo.
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