Transtornos de Humor no Trabalho: Como Identificar Sinais e Oferecer Apoio Sem Estigmas

Transtornos de humor no trabalho: Como identificar sinais e oferecer apoio sem estigmas

Descubra como reconhecer sinais de depressão, bipolaridade e reações de mentes neurodivergentes sobrecarregadas no ambiente corporativo e como líderes e colegas podem oferecer apoio com empatia, estratégia e inovação.

Por muito tempo a saúde mental sequer foi considerada pauta legítima dentro do ambiente de trabalho, se alguém mencionava ansiedade, depressão ou cansaço por conta do trabalho ou até mesmo por questões pessoais que estavam atrapalhando seu desenvolvimento pleno, a resposta mais comum entre os colegas era um silêncio constrangido — ou pior, o julgamento velado.

A lógica era simples (e cruel): quem não dá conta, está fora do jogo.

A vida emocional dos trabalhadores foi ignorada por décadas, como se sentimentos ficassem guardados no armário junto com o casaco antes de bater o ponto. Contudo, durante a pandemia, o tema saúde mental tomou conta de toda a internet e trouxe a tona a problemática do abandono que os gestores tem com assuntos relacionados a saúde mental dos colaboradores.

Com esse boom de casos sendo expostos na internet e o abandono dentro das empresas sendo denunciados, as organizações começaram a perceber que não dá para falar em produtividade, inovação ou crescimento sustentável ignorando o sofrimento psíquico que atravessa suas equipes.

A vida emocional dos trabalhadores foi ignorada por décadas, como se sentimentos ficassem guardados no armário junto com o casaco antes de bater o ponto.
A vida emocional dos trabalhadores foi ignorada por décadas, como se sentimentos ficassem guardados no armário junto com o casaco antes de bater o ponto.

A necessidade de aprender a entender e lidar com as diversidades emocionais

A discussão sobre inclusão nas empresas ganhou força nas últimas décadas, mas ainda sim sem a profundidade necessária. Falou-se muito sobre representatividade, mas pouco sobre as condições internas que garantem a permanência, a segurança e o pertencimento desses trabalhadores. Isso vale para pessoas com deficiência, para quem vive fora da norma de gênero e sexualidade, para neurodivergentes e para quem lida com transtornos de humor, como depressão, transtorno bipolar e distimia.

Durante muito tempo, essas realidades emocionais foram invisibilizadas emal compreendidas, as pessoas sofriam em silêncio e a sociedade seguia funcionando como se tudo estivesse bem.

Hoje esse silêncio começa a ser rompido.

O que antes passava despercebido, começa enfim, a receber a atenção que sempre mereceu. Mas isso não é o bastante, o que nós como sociedade precisamos é de uma transformação profunda da forma como nos relacionamos no trabalho e fora dele.

O desafio não está apenas em reconhecer um diagnóstico, mas sim em desenvolver a maturidade coletiva de perceber os sinais antes que o sofrimento vire colapso.

  • É necessário que o acolhimento aconteça sem invadir o espaço do outro
  • Aprender a escutar e amparar
  • Entender que é imporntante flexibilizar e proteger essas pessoas que passam por momentos turbulentos.

O que são transtornos de humor e como eles afetam o trabalho?

Os transtornos de humor são condições neuropsicológicas marcadas por oscilações significativas e duradouras no estado emocional. No ambiente de trabalho, essas oscilações afetam desde a produtividade até a dinâmica entre equipes.

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Antes de qualquer coisa, precisamos tirar da gaveta a ideia simplista de que transtornos de humor são apenas altos e baixos que acontecem durante o dia, estamos falando de condições neuropsicológicas complexas, que manifestam oscilações profundas, duradouras e muitas vezes invisíveis no estado emocional.

Essas variações não afetam só a vida pessoal como também reverberam diretamente na produtividade, no convívio e nas dinâmicas dentro do escritório.

Se você ainda não sabe do que se trata, vamos destrinchar agora os três principais quadros que moldam esse cenário:

Depressão é um transtorno de humor que consite em um  estado persistente de abatimento
Depressão é um transtorno de humor que consite em um estado persistente de abatimento
  • Depressão: É mais que tristeza momentânea, ela é um estado persistente de abatimento, onde a pessoa sente um esgotamento que transcende o físico, uma perda de prazer nas coisas que antes davam sentido, uma concentração que desaparece e uma autocrítica tão severa que silencia qualquer tentativa de pedido de ajuda.
O transtorno bipolar se caracteriza por ciclos entre euforia e depressão
O transtorno bipolar se caracteriza por ciclos entre euforia e depressão
  • Transtorno Bipolar: Esse transtorno se caracteriza por ciclos entre episódios de euforia extrema — conhecidos como mania ou sua versão mais branda, a hipomania — e fases de depressão profunda. Durante os episódios de mania, a pessoa pode apresentar uma energia aparentemente inesgotável, impulsividade e uma sensação de invencibilidade que, embora pareça produtiva, pode resultar em decisões precipitadas e desgaste nas relações. Já na depressão, o impacto é o oposto: retraimento, fadiga e desmotivação. Essa alternância nem sempre é óbvia para os colegas, o que dificulta o reconhecimento e o suporte adequados.
O transtorno depressivo persistente é uma condição crônica de depressão leve porém persistente
O transtorno depressivo persistente é uma condição crônica de depressão leve porém persistente
  • Distimia (ou transtorno depressivo persistente): Pode parecer menos agressiva à primeira vista, mas o impacto silencioso dessa condição crônica é devastador. A distimia é uma depressão leve, porém constante, que dura anos, corroendo aos poucos a qualidade de vida e o entusiasmo pelo trabalho, muitas vezes sem que a pessoa nem consiga nomear esse sofrimento.

Além desses, vale mencionar a hipomania, uma fase de energia elevada e agitação que dura pelo menos quatro dias consecutivos, marcada por sintomas como agitação, fala acelerada, impulsividade e irritabilidade moderada — sintomas que podem passar despercebidos, tanto pelo indivíduo quanto pelos colegas.

O ponto fundamental aqui é saber nomear essas condições e reconhecer seus sinais no cotidiano profissional é o primeiro passo para desmantelar o estigma.

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Mais do que isso, você gestor deve abrir espaço para liderar equipes diversas com conversas honestas e necessárias, onde o sofrimento deixa de ser tabu e se transforma em oportunidade para acolhimento e ação.

Como identificar os sinais no escritório?

Nem todo sofrimento psíquico é explícito. No ambiente corporativo, muitas vezes ele se disfarça de “queda de performance” ou “problema de comportamento”. Por isso, estar atento a sinais mais sutis pode ser determinante:

  • Mudanças de humor ou comportamento: irritabilidade frequente, apatia, retraimento social ou respostas emocionais desproporcionais.
  • Dificuldade de foco e produtividade: tarefas simples que se tornam complexas, prazos descumpridos, entregas inconsistentes.
  • Manifestações físicas: alterações no sono, queixas de dores difusas, fadiga constante, mudanças no apetite.

Esses sinais não substituem um diagnóstico, mas servem como pontos de atenção que podem abrir caminhos para apoio — e não para julgamento.

Como apoiar colegas com transtornos de humor?

Falar em acolhimento é fácil. Construí-lo no dia a dia, com coerência e respeito às individualidades, é outra história. Algumas ações são simples, mas exigem consistência:

  • Escuta ativa e qualificada: não se trata de “dar conselho”, mas de criar espaço seguro para que o outro fale — ou não — quando quiser.
  • Orientação para ajuda especializada: encorajar com firmeza e gentileza a busca por apoio psicológico ou psiquiátrico, sempre validando a experiência da pessoa.
  • Adaptação realista de metas e prazos: flexibilidade não significa abrir mão da entrega, mas entender que o ritmo nem sempre será constante.
  • Ambiente inclusivo e não performático: quanto mais os discursos e políticas forem coerentes, mais chance há de que alguém peça ajuda sem medo de represálias.

Um time que entende que vulnerabilidade não é fraqueza vira um espaço mais potente para todos.

Liderar alguém que está passando por um transtorno de humor requer escuta, presença e preparo
Liderar alguém que está passando por um transtorno de humor requer escuta, presença e preparo

Como um líder deve agir?

Liderar alguém que está passando por um transtorno de humor é desafiador. Não porque exige soluções mágicas, mas porque requer escuta, presença e preparo para sustentar o incômodo sem fugir. Algumas estratégias são fundamentais:

  • Formação contínua sobre saúde mental: líderes não precisam ser terapeutas, mas precisam saber quando intervir, como escutar e a quem recorrer.
  • Canais de escuta confiáveis: reuniões individuais, feedbacks com escuta genuína e abertura para conversas não-agressivas fazem toda a diferença.
  • Políticas institucionais que viram prática: ações de bem-estar que saem do papel — como horários flexíveis, espaços de escuta e campanhas internas — criam lastro institucional.

Liderar com empatia pragmática é saber equilibrar cuidado com desempenho, presença com estratégia.

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Recursos de apoio à saúde mental no ambiente corporativo

Se o discurso não vem acompanhado de estrutura, vira apenas marketing. Por isso, vale conhecer alguns recursos que realmente podem ser implementados:

  • Programas de Assistência ao Empregado (PAE): atendimento psicológico e orientações especializadas de forma confidencial e gratuita.
  • Parcerias com terapeutas e psiquiatras: convênios, workshops e atendimentos dentro do ambiente de trabalho.
  • Campanhas internas de conscientização: ações educativas ajudam a romper tabus e fortalecem a cultura organizacional.

Uma empresa comprometida com a saúde mental mostra isso no orçamento, na política de RH e na coerência de sua liderança.

Ninguém trabalha bem se está lutando sozinho

Reconhecer e apoiar colegas com transtornos de humor não é caridade — é cultura de trabalho inteligente. Uma equipe que sabe escutar, adaptar, acolher e indicar o caminho certo para ajuda cria um ambiente de confiança que se converte em desempenho real.

É tempo de abandonar o mito da alta performance constante e assumir que a saúde emocional das pessoas é parte da saúde estratégica do negócio. Não se trata de passar a mão na cabeça. Trata-se de entender que quem se sente respeitado — mesmo nos dias mais difíceis — entrega mais, cria mais, erra menos.

A Braine luta pela saúde mental

Na Braine, saúde mental não é discurso — é prática diária. Acreditamos que ninguém deveria enfrentar crises sozinho, ser ignorado por não se encaixar ou ter sua dor tratada como exagero. Por isso, desenvolvemos tecnologias que ampliam o acesso ao cuidado, como o Aura-T, que apoia o pré-diagnóstico de autismo, e a Bruna, que ajuda no monitoramento de crises emocionais.

Nosso compromisso é com uma sociedade que não apenas tolere, mas que se transforme para receber todas as pessoas como elas são. Lutamos por ambientes de trabalho, escolas, serviços e espaços públicos que não forcem ninguém a se adaptar a modelos ultrapassados de normalidade. Queremos espaços onde a diversidade cognitiva, emocional e comportamental seja compreendida como valor — não como obstáculo. Inclusão sem romantização. Cuidado sem condescendência. E tecnologia a serviço da autonomia, da dignidade e da permanência.

Referências:

DE OLIVEIRA, Claire et al. The role of mental health on workplace productivity: a critical review of the literature. Applied health economics and health policy, v. 21, n. 2, p. 167-193, 2023.

JOYCE, Sadhbh et al. Workplace interventions for common mental disorders: a systematic meta-review. Psychological medicine, v. 46, n. 4, p. 683-697, 2016.

KESSLER, Ronald C. et al. Prevalence and effects of mood disorders on work performance in a nationally representative sample of US workers. American journal of psychiatry, v. 163, n. 9, p. 1561-1568, 2006.

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