Desvende os desafios neurodivergentes na saúde pública. Conheça a luta por diagnóstico de autismo e cuidado inclusivo no SUS. Entenda como a Braine age para revolucionar o acesso e a equidade para pessoas neurodivergentes no Brasil.
O ideal que sustenta o sistema público de saúde no Brasil é um dos mais ousados já concebidos: garantir acesso universal, equidade e integralidade em todos os níveis de atenção. Essa promessa, firmada pela Constituição de 1988 e reiterada por legislações posteriores, posiciona o SUS como uma das maiores conquistas sociais do país. No entanto, quando olhamos por dentro, a partir da perspectiva das pessoas neurodivergentes, o que se revela não é apenas um descompasso técnico, mas um abismo entre o que está escrito e o que é vivido na prática.
Milhões de pessoas com funcionamento neurológico atípico — incluindo autistas, pessoas com TDAH, dislexia, altas habilidades e outros perfis — enfrentam cotidianamente barreiras que as afastam do cuidado em saúde. Barreira não é apenas o que impede a entrada, mas também aquilo que silencia, que desorganiza, que empurra para fora do sistema.
Na Braine, isso não é apenas um tema de pesquisa ou um ponto de pauta institucional. É uma urgência ética. Falar de neurodivergência no SUS é um ato de responsabilidade coletiva. É colocar luz sobre uma negligência estrutural que adoece pessoas e desgasta famílias. E é também reafirmar o nosso compromisso com uma transformação que precisa ser radical, mas possível.
Sumário
SUS e o direito à saúde para todos: o que temos e o que ainda falta

O SUS foi criado como um sistema universal, gratuito e de base territorial, voltado à integralidade do cuidado. A Constituição Federal de 1988 e o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990, sustentam esse arcabouço legal com clareza: todas as pessoas, especialmente crianças e adolescentes, têm direito à saúde e devem ser tratadas como prioridade absoluta.
Esse marco jurídico foi e é potente para a garantia do direito de toda a sociedade brasileira. O que falta, muitas vezes, é a vontade institucional de aplicá-lo plenamente quando se trata da diversidade de cérebros e comportamentos.
Veja bem, não estamos dizendo que pessoas neurodivergentes precisam de privilégios, e sim que elas precisam apenas que o sistema de saúde funcione plenamente com sensibilidade, flexibilidade e preparo técnico suficiente para reconhecê-las. O problema é que o SUS, ainda hoje, é pensado majoritariamente para o padrão neurotípico. E isso cria um descompasso que se aprofunda nas pontas: no acolhimento, no diagnóstico, no encaminhamento e no tratamento.
As barreiras velhas e novas
Apesar da força normativa do SUS, na prática, o sistema impõe barreiras específicas a quem precisa de um olhar mais singular sobre seu funcionamento neurológico. Entre as mais recorrentes, podemos destacar:
• Filas e tempo de espera: Conseguir uma consulta com neurologistas, psiquiatras infantis ou psicólogos especializados pode demorar meses — ou, em muitos lugares, nunca acontecer. Esse tempo perdido é especialmente cruel na infância, quando janelas de desenvolvimento são fundamentais para a efetividade das intervenções.
• Falta de formação específica: A atenção primária, que deveria ser o ponto de escuta e orientação inicial, muitas vezes não está preparada para reconhecer os sinais da neurodivergência. Isso gera encaminhamentos tardios, diagnósticos equivocados e a perpetuação de sofrimentos evitáveis.
• Invisibilidade e estigma: Em muitas unidades de saúde, ainda impera o desconhecimento sobre o que significa ser neurodivergente. Profissionais minimizam sintomas, interpretam comportamentos como “frescura” ou “falta de limite” e invalidam as queixas das famílias.
• Descontinuidade no cuidado: Mesmo quando há diagnóstico, nem sempre existe continuidade terapêutica. Faltam vagas para acompanhamento, há rotatividade de profissionais e uma fragmentação entre os serviços que dificulta a coordenação do cuidado.
Essas falhas não são acidentais. Elas fazem parte de um modelo que, historicamente, não foi desenhado para a pluralidade de formas de existir e funcionar. E por isso mesmo precisam ser enfrentadas com coragem e propostas concretas. Para a Braine, isso não é retórica: é direção de ação. Queremos um SUS mais preparado, mais inclusivo e mais consciente do seu papel transformador.
A jornada do diagnóstico: O primeiro grito por visibilidade na saúde pública
Receber um diagnóstico de autismo ou de outra neurodivergência é, para muitas famílias, o primeiro gesto de visibilidade dentro do sistema público de saúde. É o momento em que se nomeia um funcionamento cerebral diferente e, com isso, se começa a buscar caminhos de cuidado mais ajustados. No entanto, no Brasil, essa jornada ainda se assemelha a um percurso exaustivo, frequentemente marcado por espera prolongada, encaminhamentos equivocados e sentimentos de frustração profunda.
O artigo “Políticas públicas para o acesso e permanência de estudantes neurodivergentes na Educação Básica”, publicado na Revista JRG de Estudos Acadêmicos, revela como o acesso ao diagnóstico dentro da rede pública ainda é um dos maiores desafios enfrentados por famílias e indivíduos neurodivergentes. A pesquisa mostra que, mesmo com a clara evidência científica de que a intervenção precoce pode transformar radicalmente os desfechos de desenvolvimento — especialmente nos primeiros anos de vida, quando a plasticidade cerebral é maior —, o SUS ainda não consegue garantir esse direito básico de forma equitativa. As longas esperas por consultas com neurologistas, psiquiatras infantis ou neuropsicólogos refletem uma negligência estrutural que compromete não apenas o cuidado, mas também o potencial de desenvolvimento dessas pessoas.
Diagnóstico precoce como direito inviolável
A ciência é clara: quanto mais cedo o diagnóstico e a intervenção, melhores os resultados. Isso não é opinião, é evidência consolidada. O diagnóstico precoce de autismo e de outras neurodivergências permite não apenas mitigar dificuldades, mas também potencializar talentos e promover autonomia. No entanto, essa etapa, que deveria ser parte fundamental da atenção básica em saúde, ainda está distante da maioria das famílias brasileiras.
Segundo o mesmo artigo da Revista JRG, a ausência de fluxos estabelecidos para triagem e encaminhamento torna o processo de diagnóstico lento, fragmentado e, muitas vezes, ineficaz. A realidade é que, para boa parte da população, o acesso ao diagnóstico ainda depende de condições sociais, econômicas e geográficas. Isso não apenas fere o princípio da equidade no SUS, mas perpetua desigualdades que poderiam ser enfrentadas com organização e investimento técnico.
A complexidade da avaliação: Formação profissional e protocolos inexistentes
Diagnosticar neurodivergências exige muito mais do que boa vontade, pois é um processo complexo, que demanda formação técnica, sensibilidade clínica e o uso de instrumentos adequados.
Na rede pública, esse desafio é ainda maior.
Muitos profissionais da atenção primária, responsáveis por identificar sinais iniciais e fazer os primeiros encaminhamentos, não possuem formação específica para reconhecer os traços da neurodivergência.
Essa lacuna de preparo se traduz em três consequências recorrentes:
• Diagnósticos tardios: Quando os sinais são ignorados ou interpretados de forma equivocada, a identificação se dá muito depois do ideal.
• Encaminhamentos desalinhados: Famílias são direcionadas a serviços que não oferecem o suporte necessário, gerando frustração e perda de tempo.
• Sensação de abandono: Sem respostas claras, muitas famílias se sentem sozinhas na busca por entendimento e cuidado.
O artigo “Pessoas neuroatípicas e seus obstáculos na sociedade”, publicado por SILVA, B. R. et al. (2023) no Repositório da UNIBRA, reforça esse cenário. A pesquisa aponta como a ausência de conhecimento técnico sobre a neurodivergência por parte de profissionais da saúde pública não só prejudica o cuidado, como também contribui para a exclusão social desses sujeitos. O texto mostra que não se trata apenas de uma falha operacional, mas de uma lógica estrutural que ainda resiste a reconhecer a diversidade de modos de ser como parte legítima da experiência humana.
Na Braine, entendemos que essa é uma disputa de inteligência institucional. É preciso formar, atualizar e apoiar os profissionais da rede para que possam acolher, identificar e encaminhar de forma sensível e assertiva. Precisamos de protocolos claros, de políticas públicas que garantam acesso real e de uma nova cultura no cuidado em saúde que abrace a neurodiversidade desde o início do percurso.
Desafios do cuidado integral: Navegando o sistema pós-diagnóstico
Receber um diagnóstico de autismo ou de outra neurodivergência é, para muitas famílias, um momento de clareza. Representa o encerramento de uma longa busca por respostas e o início de um caminho mais direcionado.
No entanto, esse passo inicial, que deveria abrir portas para um cuidado contínuo e estruturado, frequentemente revela um novo desafio: navegar por um sistema de atenção fragmentado e desarticulado. A promessa de um cuidado neuroinclusivo, integral e personalizado ainda está longe de ser plenamente cumprida na saúde pública brasileira.
Da terapia à inclusão: A fragmentação dos serviços de suporte
Após o diagnóstico, o cuidado adequado para uma pessoa neurodivergente exige uma rede de suporte interdisciplinar. Fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, fisioterapeutas e profissionais da psicopedagogia compõem esse time essencial. O princípio da integralidade do cuidado, consagrado pelo SUS, pressupõe que todos esses serviços estejam disponíveis de maneira articulada e acessível. No entanto, o que se observa é uma realidade fragmentada e ineficaz.
• Escassez de profissionais especializados: A rede pública ainda conta com número insuficiente de terapeutas capacitados para atuar com neurodivergências, o que resulta em longas listas de espera e, em muitos casos, na migração forçada para o setor privado.
• Falta de articulação entre os serviços: Saúde, educação e assistência social seguem operando em esferas pouco conectadas. Cada instância atua de forma isolada, comprometendo a construção de um plano terapêutico individualizado que responda de forma eficaz às necessidades reais da pessoa neurodivergente.
• Acesso limitado a terapias com base científica: Abordagens como a Análise do Comportamento Aplicada (ABA) e o Modelo Denver (ESDM), que contam com evidência robusta na literatura para intervenção em autismo, ainda não estão amplamente disponíveis ou implementadas de forma consistente no SUS.
Essa desarticulação compromete o desenvolvimento de quem precisa de suporte contínuo e intensivo. O livro “Linha de cuidado para a atenção às pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde” propõe uma reestruturação da atenção básica por meio de uma clínica ampliada, com abordagem intersetorial e foco nas singularidades da neurodiversidade. Essa proposta visa substituir o modelo fragmentado por um cuidado mais sensível, contínuo e eficaz.
O estigma institucional: A invisibilidade que adoece e exclui
OA presença do estigma sobre a neurodiversidade não se limita ao senso comum. Ele também se manifesta de forma institucional dentro dos próprios serviços públicos. O preconceito e a desinformação presentes em parte das equipes de saúde geram barreiras silenciosas, mas poderosas, que dificultam a construção de um cuidado adequado.
• Falta de acolhimento sensível: Profissionais despreparados para lidar com diferentes formas de comunicação, expressão emocional ou sensorialidade podem oferecer atendimentos apressados e pouco empáticos. Isso gera situações de não escuta e interpretação equivocada das demandas da pessoa neurodivergente.
• Olhar patologizante sobre a diferença: Ainda persiste a ideia de que o cuidado deve ter como meta a normalização do comportamento. Essa abordagem desconsidera a neurodivergência como uma forma legítima de funcionamento e mina os princípios de inclusão e respeito à singularidade.
• Negligência da autonomia do sujeito: Em muitas situações, especialmente quando existem dificuldades de linguagem, a pessoa neurodivergente tem sua voz silenciada nos processos decisórios sobre seu próprio tratamento. Isso compromete sua autodeterminação e perpetua relações assimétricas no cuidado.
Esse conjunto de fatores não apenas restringe o acesso ao que deveria ser um direito, mas também contribui para a retração emocional, a desconfiança no sistema e o agravamento do sofrimento psíquico. A dissertação “O sistema educacional inclusivo ressignificando a dignidade de pessoas neurodivergentes e/ou com deficiência”, de FREITAS, Priscila de (2024), propõe que a superação dessas barreiras exige uma mudança cultural e institucional mais profunda. A partir do princípio da solidariedade e da interseção entre políticas públicas, é possível redesenhar práticas que reconheçam, valorizem e respeitem a dignidade plena das pessoas neurodivergentes como sujeitos de direitos.
Na visão da Braine, um cuidado integral e contínuo só será possível quando o sistema público se reorganizar para enxergar a complexidade da neurodiversidade não como um desafio isolado, mas como parte da missão central da saúde coletiva. Formar profissionais, integrar redes e escutar os sujeitos deve ser o caminho.
Onde a neurodiversidade encontra o SUS: Leis, políticas e a luta por efetividade
O Brasil possui um dos arcabouços legais mais avançados do mundo no que diz respeito à garantia de direitos para pessoas com deficiência, incluindo as neurodivergências. A Constituição Federal de 1988, ao reconhecer a saúde como um direito de todos e dever do Estado, lançou as bases para uma série de legislações que reforçam o princípio da equidade.
No entanto, quando olhamos para a realidade da saúde pública sob a ótica da neurodiversidade, percebemos que a distância entre o que está na lei e o que se concretiza no cotidiano das famílias ainda é significativa.
Leis que protegem: Do ECA à Lei Brasileira de Inclusão (LBI)
A proteção legal das pessoas neurodivergentes no Brasil se inicia com a Constituição Federal de 1988. Ela garante direitos fundamentais à saúde e à educação. A partir dela, outras leis se desenvolveram, criando um escudo de proteção:
- Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei nº 8.069/1990): Consagra a criança e o adolescente como sujeitos de direitos. Prioriza o acesso à saúde e à educação, abrangendo aqueles com deficiência.
- Lei Berenice Piana (Lei nº 12.764/2012): Marco fundamental. Reconhece a pessoa com TEA como pessoa com deficiência. Garante todos os direitos legais previstos para essa população, incluindo diagnóstico precoce, atendimento multiprofissional e inclusão escolar.
- Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015 – LBI): Uma legislação abrangente. Ela assegura e promove, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e liberdades fundamentais por pessoas com deficiência. Isso visa sua inclusão social e cidadania. A LBI reforça o direito à saúde integral e à habilitação/reabilitação.
- CIPtea (Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista): Implementada para facilitar o acesso a direitos e serviços, a CIPtea, também conhecida como Carteira Romeo Mion, serve como um instrumento de identificação. Agiliza a prioridade no atendimento em serviços públicos e privados.
Essas legislações formam um conjunto robusto de garantias que, em teoria, deveriam assegurar o cuidado neuroinclusivo. No entanto, a transição da norma para a prática exige mais do que a existência de leis pois requer estrutura, investimento e compromisso político.
Políticas públicas existentes e suas lacunas: Um caminho atingido por obstáculos
Embora o país conte com políticas e programas voltados para a saúde mental e inclusão de pessoas neurodivergentes, as lacunas em sua implementação são profundas. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), por exemplo, é uma estratégia central no atendimento à saúde mental dentro do SUS. Ela abrange os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e os CAPS Infantis (CAPS-i), que deveriam oferecer cuidado contínuo e especializado. No entanto, a distribuição desigual desses serviços e a carência de profissionais capacitados para lidar com a complexidade da neurodiversidade limitam sua efetividade.
Da mesma forma, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) é garantido por lei para estudantes com deficiência, mas enfrenta desafios concretos como a falta de infraestrutura adequada, ausência de formação dos educadores e escassez de recursos pedagógicos específicos.
Outro ponto sensível está nos programas de intervenção precoce. A literatura científica já consolidou que intervenções nos primeiros anos de vida são decisivas para o desenvolvimento de crianças com autismo. No entanto, o SUS ainda não oferece, em larga escala, programas estruturados e acessíveis para atender essa demanda, o que perpetua desigualdades e compromete a eficácia do cuidado.
O livro “Linha de cuidado para a atenção às pessoas com Transtornos do Espectro do Autismo e suas famílias na Rede de Atenção Psicossocial do Sistema Único de Saúde” destaca a importância de uma abordagem intersetorial e da adoção de uma clínica ampliada. A proposta é romper com a lógica fragmentada e construir um cuidado que integre saúde, educação e assistência social, respondendo de forma coordenada às múltiplas dimensões da vida de uma pessoa neurodivergente.
Casos específicos: A realidade das neurodivergências no SUS
Para compreender a fundo os desafios, precisamos olhar a realidade de neurodivergências específicas no SUS. Cada condição, embora sob o mesmo guarda-chuva, enfrenta nuances próprias na luta por direitos e acesso a serviços.
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem ganhado maior visibilidade e reconhecimento legal. No entanto, o acesso a atendimento especializado no SUS para pessoas autistas ainda é uma urgência não atendida plenamente.
- Diagnóstico tardio: As longas filas e a falta de profissionais treinados na atenção primária frequentemente resultam em diagnósticos tardios de autismo. Isso atrasa o início de terapias cruciais.
- Escassez de terapias: A oferta de terapias comportamentais (como ABA), fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia em quantidade e qualidade adequadas na rede pública é insuficiente. Isso força muitas famílias a buscar o setor privado ou a permanecerem sem atendimento.
- Falta de centros de referência: Centros especializados no atendimento de TEA com equipes multidisciplinares e abordagens integradas são raros ou inacessíveis para grande parte da população.
A complexidade da neurodiversidade no autismo exige uma resposta ágil e especializada. O SUS, com seu potencial, precisa ser mais pragmático na alocação de recursos e na capacitação de sua equipe para responder a essa demanda crescente.
TDAH e dislexia: A invisibilidade além do diagnóstico
Enquanto o autismo ganha maior atenção, outras neurodivergências, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e a dislexia, frequentemente sofrem com a invisibilidade e a falta de suporte adequado no sistema público. O acesso ao diagnóstico e tratamento para essas condições é ainda mais desafiador.
- Desconhecimento: Profissionais da saúde e educação, muitas vezes, ainda subestimam o impacto do TDAH e da dislexia. Isso leva a atrasos no encaminhamento ou a abordagens pedagógicas e terapêuticas inadequadas.
- Tratamento medicamentoso: Para o TDAH, a medicação é parte importante do tratamento. O acesso a esses medicamentos na rede pública pode ser burocrático e limitado, impactando a adesão.
- Foco na “cura” e não no suporte: A visão de que essas condições são “problemas” a serem eliminados, em vez de funcionamentos distintos que precisam de suporte adaptativo, ainda prevalece, prejudicando a inclusão.
A invisibilidade dessas neurodivergências no SUS resulta em sofrimento desnecessário para crianças e adolescentes. Isso também compromete seu desempenho escolar e seu desenvolvimento social e emocional.
Outras neurodivergências: O custo do desconhecimento no sistema
Para além das condições mais conhecidas, uma série de outras neurodivergências enfrentam um cenário ainda mais crítico de desconhecimento e falta de suporte no sistema de saúde pública. Dispraxia, discalculia, Síndrome de Tourette e Transtorno do Processamento Sensorial são exemplos de condições que, embora impactem significativamente a vida das pessoas neurodivergentes, são raramente identificadas e tratadas adequadamente no SUS.
O custo do desconhecimento é alto. Inclui:
- Diagnósticos inexistentes: Muitas pessoas neurodivergentes com essas condições nunca recebem um diagnóstico formal. Vivem com dificuldades não compreendidas.
- Falta de terapias específicas: A ausência de profissionais treinados e de protocolos para essas condições resulta na falta de acesso a terapias e intervenções que poderiam melhorar a qualidade de vida.
- Comorbidades não tratadas: O sofrimento de viver sem compreensão e suporte adequado frequentemente leva ao desenvolvimento de comorbidades. Exemplos: ansiedade, depressão, o Transtorno Opositor Desafiador (TOD), que é frequentemente secundário à frustração e falta de acolhimento.
A saúde pública precisa de uma expansão urgente em seu conhecimento e capacidade de resposta à vasta pluralidade da neurodiversidade. É um desafio para o qual a Braine busca oferecer soluções pragmáticas.
O papel essencial da família e da comunidade: A resistência fora dos muros do Estado
Diante das lacunas da saúde pública, a família e a comunidade emergem como protagonistas essenciais na luta pelos direitos e pelo cuidado de crianças e adolescentes neurodivergentes. A resistência e a resiliência desses grupos se manifestam fora dos muros do Estado, na busca incansável por apoio e inclusão.
A família, para a pessoa neurodivergente, é o primeiro e mais importante elo de suporte. Ela assume um papel crucial. Não apenas no cuidado direto. Também na defesa e garantia dos direitos que o Estado, por vezes, falha em prover.
Essa luta abrange:
- Busca por diagnóstico: Pais, muitas vezes, iniciam uma verdadeira odisseia para conseguir um diagnóstico de autismo ou outra neurodivergência. Isso envolve múltiplas consultas, exames e avaliações.
- Advocacy ativa: Famílias se tornam defensoras incansáveis dos direitos de seus filhos. Pressionam escolas por inclusão. Exigem terapias. Lutam por acesso a serviços de saúde.
- Apoio emocional: O impacto de um diagnóstico de autismo ou neurodivergência na família é imenso. O apoio mútuo, a busca por informação e a construção de uma rede de suporte são vitais para a saúde mental dos pais e cuidadores.
A experiência da família é um motor rebelde. Impulsiona a mudança no sistema. Sua voz, coletivamente, tem o poder de exigir uma saúde pública mais inclusiva.
A força das associações e o ativismo neurodivergente
A voz individual das famílias ganha eco e força ao se unir em associações, ONGs e movimentos de ativismo neurodivergente. Essas organizações desempenham um papel fundamental na luta por direitos e na promoção da inclusão no contexto da saúde pública.
- Pressão por políticas públicas: Associações atuam como grupos de pressão junto a governos. Exigem a criação e implementação de políticas públicas mais eficazes para a neurodiversidade.
- Disseminação de informação: Produzem e distribuem materiais informativos. Organizam palestras e eventos. Promovem a conscientização sobre as neurodivergências. Combatem o estigma social.
- Rede de apoio e acolhimento: Oferecem espaços de troca de experiências, suporte emocional e orientação para famílias e pessoas neurodivergentes. Combatem o isolamento.
- Atuação jurídica: Muitas associações oferecem apoio jurídico para famílias que necessitam judicializar o acesso a direitos e serviços de saúde.
Essa força coletiva demonstra um pragmatismo na luta. Atinge resultados concretos onde a burocracia estatal falha. A saúde pública se beneficia imensamente da colaboração com essas organizações. Elas trazem a experiência real do campo de batalha da inclusão.
Tecnologia humanizada como aliada do SUS
Acreditamos que a tecnologia, quando desenvolvida com propósito e alma, pode ser uma das maiores aliadas do SUS. Ela pode preencher lacunas, otimizar processos e levar o cuidado especializado a quem mais precisa.
Nossas soluções são desenhadas para complementar e fortalecer a saúde pública:
- Aura-T: Nossa ferramenta de triagem preditiva do autismo pode ser um recurso valioso para a atenção primária do SUS. Ela permite um rastreio mais rápido e preciso. Diminui o tempo até o diagnóstico de autismo e o início da intervenção. Isso se alinha ao princípio da precocidade no cuidado.
- Bruna: Nossa assistente virtual com IA humanizada oferece suporte contínuo. Pode atuar como um complemento à rede de apoio. Auxilia na gestão de crises e no suporte emocional. Isso é especialmente importante em regiões com escassez de serviços.
- Care 360: Uma plataforma de gestão de cuidado integral. Pode auxiliar a organizar o fluxo de atendimento em redes públicas. Facilita a comunicação entre profissionais e famílias. Promove a integração de serviços, desburocratizando o acesso.
Essas tecnologias não visam substituir o toque humano. Elas amplificam a capacidade de alcance. Permitem que mais pessoas neurodivergentes recebam o suporte necessário. É uma abordagem sábia e pragmática.
Dados com alma: Subsidiando políticas públicas mais inteligentes
A falta de dados precisos sobre a população neurodivergente é um dos grandes obstáculos para a criação de políticas públicas eficazes na saúde pública. Sem saber quem são, onde estão e quais suas necessidades, é impossível planejar.
Na Braine, coletamos e analisamos “dados com alma”. Eles não são apenas números. Refletem as experiências vividas por pessoas neurodivergentes e suas famílias. Esses dados, anonimizados e tratados com ética, podem subsidiar:
- Mapeamento de necessidades: Identificar regiões com maior demanda por serviços especializados.
- Planejamento de recursos: Alocar investimentos em formação profissional e infraestrutura de forma estratégica.
- Avaliação de políticas: Medir o impacto de programas de saúde pública e ajustá-los para maior efetividade.
Nossa expertise em dados oferece uma oportunidade para que o Brasil construa políticas públicas sobre neurodiversidade baseadas em evidências reais, não em achismos. Isso é pragmatismo em sua forma mais pura: transformar dados em ações que salvam vidas.
Capacitação e informação: Empoderando profissionais e cidadãos
A Braine reconhece que a transformação da saúde pública passa pela capacitação. Também pela disseminação de informação. Queremos empoderar profissionais e cidadãos.
- Profissionais: Oferecemos conteúdo e treinamentos. Capacitam a identificar neurodivergências. Promovem um acolhimento mais humanizado. Disseminamos práticas baseadas em evidências.
- Cidadãos: Nosso blog e plataformas oferecem informações acessíveis e confiáveis. Capacitam famílias a entender seus direitos. A buscar o suporte adequado. A se tornarem agentes ativos de sua própria inclusão.
Acreditamos que o conhecimento é a maior arma contra o preconceito e a desinformação. Ao capacitar e informar, cultivamos uma sociedade mais consciente e apta a promover a inclusão em todos os níveis.
Junte-se à revolução neurocientífica da Braine
O desafio da saúde pública em relação à neurodiversidade é imenso, mas não intransponível. O diagnóstico de autismo e o acesso a um cuidado integral para pessoas neurodivergentes são direitos inegociáveis. A plena efetivação desses direitos exige uma rebeldia pragmática. Exige um compromisso de todos nós.
A Braine se posiciona nessa batalha. Acreditamos que o futuro pertence àqueles que ousam sonhar com uma sociedade mais justa e inclusiva. Uma sociedade onde a neurodiversidade seja vista como um valor. Onde cada mente singular seja acolhida e tenha todas as oportunidades para brilhar.
Se você compartilha da nossa paixão por desvendar os segredos do cérebro e acredita que a neurociência pode ser a chave para um futuro de cuidado mais justo e eficaz, o seu lugar é aqui. Não aceitamos menos que a transformação, e sabemos que ela começa com profissionais e visionários que, assim como nós, ousam pensar diferente.
Conheça o AURA-T, nossa ferramenta de triagem pré-diagnóstica que já está revolucionando a identificação do autismo no Brasil. Ele é um testemunho de como o conhecimento, a tecnologia e a sensibilidade clínica podem se unir para criar um impacto profundo. Queremos você na linha de frente dessa mudança: seja um dos nossos beta testers do AURA-T e ajude a moldar o futuro da clínica em tempo real.
E marque na sua agenda: entre os dias 4 e 8 de agosto, estaremos no II Encontro de Informação e Saúde: Neurodiversidade 2025. Será uma imersão em debates sobre o futuro do cuidado sob uma perspectiva interdisciplinar, um espaço para trocas, aprendizado e construção coletiva com mentes que não se conformam com o que já existe.
Transformar o cuidado começa por quem se dispõe a sentir, escutar e agir de outro jeito. Esse futuro, pautado pela inteligência do cérebro e pela coragem de inovar, precisa da sua presença. Venha com a Braine.