Agora todo mundo é autista?

Agora todo mundo é autista?

A explosão de diagnósticos de autismo é real, mas será mesmo que todo mundo é autista hoje em dia? Saiba porque essa discussão revela muito mais sobre a nossa sociedade do que sobre o espectro autista em si.

Nos últimos tempos com o boom da procura por diagnósticos, muitas pessoas começaram a questionar a veracidade da causa neurodivergente. O que é muito perigoso.

E é verdade que estamos vendo um aumento significativo de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas isso não significa que há mais pessoas autistas hoje do que antes, significa que estamos aprendendo anomear o que sempre esteve aí. Estamos começando a decifrar o óbvio que o capacitismo camuflour por décadas: que há diversas formas de existir no mundo.

Neste texto, vamos analisar o que está por trás dessa sensação de “epidemia de diagnósticos”. Falando de ciência, cultura, ignorância social e, principalmente, de como o reconhecimento da neurodiversidade não é um modismo.

Ser autista vai além do que se imagina
Ser autista vai além do que se imagina

O que significa ser autista – e o que definitivamente não significa

Diagnóstico: uma construção com bases clínicas sólidas

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) não é modinha da geração Z, ele foi identificado por especialistas após décadas de observação clínica e estudos neurobiológicos.

Seus elementos centrais envolvem: dificuldades persistentes na interação e comunicação social (e isso abrange muito mais do que a timidez ou a introversão momentâneas que todos eventualmente sentimos).

Inclui também padrões de comportamento, interesses ou atividades restritas e repetitivas.

Mas há variações: umas pessoas mostram formas muito intensas dessas características desde cedo, com repercussões profundas no cotidiano; outras, especialmente aquelas com diagnóstico tardio, podem se portar com grande independência, fazendo com que a condição passe despercebida durante anos — ou até a vida inteira.

Delimitar o espectro, entender o limite

É fácil confundir certos traços de personalidade com traços autistas. E isso acontece porque há, de fato, uma área cinzenta onde essas expressões convergem: o que distingue alguém com requisitos adaptados, uma preocupação profunda por organização ou rotina, de alguém cujo cérebro processa estímulos sensoriais de forma atípica – do tipo que faz barulhos comuns provocarem desconforto profundo ou doloroso?

É uma linha tênue, mas crucial. Ser autista implica esse padrão atípico de processamento sensorial ou emocional, que se repete sistematicamente e interfere significativamente na vida da pessoa – indo além de características isoladas ou transitórias. Por isso, ao primeiro sinal de dúvida, é necessário procurar auxílio de um neuropsicólogo.

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Por que a impressão de que “agora todo mundo é autista” se espalha tão rápido?

Internet addiction
A disseminação de desinformação pela internet auxilia no mal entendimento do que realmente é o autismo

1. A avalanche de desinformação

Cada grupo nas redes sociais, cada portal de saúde abre espaço para discussões sobre “transtorno do espectro” e aparece alguém dizendo “acabei de ler que posso ter leve traço autista”. Essa repetição dá a falsa impressão de que o autismo é mais comum do que realmente é, ou que qualquer pessoa que goste de matemática ou prefira silêncio está no espectro.

2. Ampliação dos critérios diagnósticos

Com a publicação do DSM‑5, em 2013, a definição de espectro ficou mais ampla, incluindo pessoas com autismo leve que antes ficavam à margem do diagnóstico. Isso gerou um crescimento real nos casos identificados – o que reforçou a percepção pública de que a condição está em toda parte. É um fenômeno estatístico macrossocial: mais pessoas diagnosticadas significa que o “ser autista” deixou de ser exceção.

3. Conscientização crescente — e seus exageros corolários

Cresceu o debate sobre estímulos sensoriais durante a infância, ambientes escolares inclusivos, diversidade e neurodiversidade. Isso gera um paradoxo: por um lado, a maior visibilidade do autismo é positiva, mas por outro, essa visibilidade é muitas vezes desinformada e confunde inclusão com banalização.

O perigo da deslegitimação e da banalização do espectro

A person deprived of communication with society. Difficulties in integrating into society
A deslegitimação e a banalização do espectro autista é um risco que nossa sociedade vive

Quando usamos expressões como “todo mundo tem um pouco de autismo” ou quando observamos o crescimento desenfreado de autodiagnósticos feitos a partir de vídeos de 30 segundos no TikTok, entramos num território extremamente sensível, no qual o risco da deslegitimação e da banalização do espectro autista se torna uma consequência extremamente prejudicial tanto para as pessoas que de fato fazem parte do espectro quanto para toda a sociedade que tenta construir uma visão mais justa e inclusiva sobre as neurodivergências.

Esse fenômeno reverbera nas instituições, nas políticas públicas, no mercado de trabalho, nas relações interpessoais e, sobretudo, na forma como percebemos, acolhemos e respeitamos a neurodiversidade.

Esse movimento gera uma série de efeitos colaterais, como por exemplo:

  • Invalidação da experiência de quem é autista de fato
  • Dificuldade de acesso aos recursos e apoios necessários
  • Esgotamento dos profissionais de saúde e sobrecarga dos serviços especializados
  • Redução da credibilidade do próprio conceito de neurodiversidade
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O papel da sociedade na inclusão de pessoas autistas

Mental health support and autistic brain and autism disorder symptoms or Asperger syndrome
Inclusão verdadeira é um compromisso coletivo.

Inclusão verdadeira é um compromisso coletivo. É um pacto social que exige esforço de todos os setores: do poder público às instituições privadas, da educação formal ao mercado de trabalho, da produção de conteúdo cultural à vida cotidiana de cada indivíduo.

E esse pacto começa pelo reconhecimento de que a inclusão de pessoas autistas não é um favor, é um direito.

A sociedade, enquanto estrutura simbólica e funcional, desempenha um papel central na forma como as pessoas autistas são estimuladas e acolhidas. Quando falamos em inclusão, não estamos apenas pedindo que os ambientes deixem de ser pensados unicamente sob uma lógica neurotípica excludente, estamos pedindo um novo projeto de convivência.

Essa responsabilidade se desdobra em diferentes esferas, e todas precisam caminhar juntas para que a inclusão aconteça de fato:

  • Na educação é necessário investir em formação docente, repensar metodologias, garantir mediação qualificada, e sobretudo abandonar o ideal de normalidade homogênea.
  • No mercado de trabalho as empresas devem romper com padrões engessados de produtividade, comunicação e comportamento profissional. Inclusão, nesse contexto, significa reconhecer que há múltiplas formas de ser competente, criativo e eficiente. Pessoas autistas podem ter ritmos e formas diferentes de interagir, mas isso não as torna menos capazes — apenas exigem ambientes mais flexíveis, processos de recrutamento mais justos e lideranças preparadas para lidar com a diversidade cognitiva.
  • Na vida comunitária e nas relações interpessoais cada um de nós pode atuar como agente da inclusão. Isso significa prestar atenção nos ruídos do convívio: não pressionar por interações forçadas, respeitar o tempo do outro, acolher modos diferentes de estar presente.

Mas é claro que empatia não basta. A inclusão de pessoas autistas na sociedade precisa ser respaldada por políticas públicas sérias, com orçamento, fiscalização e continuidade. Que é o que afirma o texto “Informação, inclusão e empatia derrubam tabus sobre o autismo” que escancara a realidade de profissionais da saúde autistas que atuam nesses espaços e ainda enfrentam o preconceito disfarçado.

O que se espera da sociedade não é perfeição — é responsabilidade. Não é que todas as pessoas devam se tornar especialistas em TEA, mas que estejam dispostas a se desconstruir, a escutar mais do que julgar, a abrir espaço para o outro existir como ele é. E isso só acontece quando olhamos para a inclusão como uma reconfiguração de espaços sociais.

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O papel da Braine

A inclusão de pessoas autistas não deve ser uma adaptação superficial. É preciso rever processos, linguagens, formas de cobrança e modelos de liderança. Não se trata de encaixar o autista no mundo. Trata-se de transformar o mundo para que ele caiba em mais gente.

Na Braine, acreditamos que saúde mental não se conquista apenas com diagnósticos e protocolos. Ela se constrói — dia após dia — em escolhas que integram corpo, mente e cultura organizacional. Nosso trabalho vai além da superfície dos sintomas. Queremos provocar mudanças reais: nos hábitos, nas lideranças, nos ambientes que hoje operam sob estresse crônico e invisível.

Apostamos na ciência, mas também na escuta. Criamos soluções tecnológicas que respeitam a pluralidade humana e promovem ambientes onde a saúde emocional é parte do sistema — e não um bônus esporádico. Valorizamos a neurodivergência, os diferentes ritmos, as singularidades cognitivas. E sabemos que a vitalidade cerebral passa, sim, pelo movimento corporal.

Produtos que vão mudar o tratamento da saúde mentalno futuro

A Braine está desenvolvendo ferramentas inovadoras que unem ciência, tecnologia e cuidado para promover uma sociedade mais inclusiva e preparada para acolher a neurodiversidade:

  • Aura-T: uma ferramenta de rastreamento inteligente que apoia profissionais no processo de diagnóstico do autismo, oferecendo dados precisos, sensíveis e embasados em evidências.
  • Care 360: uma plataforma de cuidado integral que conecta pessoas neurodivergentes, suas famílias e profissionais da saúde em uma rede colaborativa de suporte, acolhimento e orientação.
  • Bruna: uma assistente virtual com inteligência artificial, projetada para oferecer suporte emocional em tempo real e auxiliar na gestão de crises com empatia, linguagem humanizada e inteligência contextual.

Essas soluções fazem parte do compromisso da Braine com um futuro onde inclusão, tecnologia e bem-estar caminham lado a lado.

Junte-se a nós nessa transformação

Quer continuar nessa jornada de descobertas e reflexões sobre o futuro da saúde emocional nas organizações? Explore o blog da Braine, conheça o AURA-T — nossa ferramenta de triagem inteligente — e descubra como a inovação pode andar lado a lado com a escuta ética e o cuidado singular. Aproveite também para se inscrever no II Encontro de Informação e Saúde: Neurodiversidade 2025 que acontecerá nos dias 4 a 8 de agosto

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