A neuropsicologia está sendo revolucionada pela inteligência artificial. Entenda como essa fusão está transformando a saúde mental com mais precisão, acesso e cuidado humano — e como a Braine está na vanguarda desse movimento no Brasil.
Vivemos um tempo que já não permite distrações inocentes. O século XXI nos convocou — quase que sem escolha — para uma tomada de consciência brutal sobre nossa saúde mental. Os dados não deixam dúvidas: os transtornos mentais se tornaram a nova pandemia silenciosa, atravessando fronteiras, idades, classes sociais e culturas.
Ansiedade, depressão, TDAH, burnout, demência… são nomes que se tornaram familiares até demais em rodas de conversa, reuniões de equipe, atendimentos clínicos e diagnósticos familiares. A pergunta que ecoa é: o que estamos fazendo com o nosso cérebro, e o que podemos — de forma realista, ética e acessível — fazer para cuidar melhor dele?
Neste contexto caótico e urgente, a neuropsicologia se posiciona como uma das ciências mais potentes para compreendermos o funcionamento cerebral em sua complexidade. Mais do que isso: ela nos dá ferramentas concretas para intervir nos processos cognitivos afetados por distúrbios mentais — algo que a psiquiatria tradicional, sozinha, muitas vezes falha em fazer.
No entanto, é preciso reconhecer: a neuropsicologia também enfrenta suas próprias limitações. Avaliações longas, caras, de difícil acesso. Intervenções que exigem uma equipe interdisciplinar robusta. Famílias perdidas entre laudos técnicos e jornadas terapêuticas fragmentadas. E é ai que a Inteligência Artificial entra como parceira estratégica. Quando bem aplicada, a IA potencializa a neuropsicologia, acelerando diagnósticos, personalizando intervenções, identificando padrões ocultos em dados complexos e permitindo que o cuidado seja expandido para mais pessoas, em menos tempo, com maior precisão.
Prepare-se: este não é um texto leve, mas é um convite necessário para quem deseja compreender e construir o futuro do cuidado em saúde mental.

História da neuropsicologia na saúde mental
Antes de falarmos sobre algoritmos, precisamos falar sobre histórias. Porque toda tecnologia significativa nasce de um problema humano profundo. E no caso da neuropsicologia, esse problema sempre foi um: como entender, de forma integral, o cérebro humano quando ele falha?
A neuropsicologia surgiu como um campo de interseção entre a neurologia e a psicologia. Na primeira metade do século XX, o neurocientista russo Alexander Luria tornou-se um dos grandes pioneiros ao propor um modelo funcional do cérebro que ia além da localização anatômica das lesões.
Em vez de simplesmente mapear “onde” estava o dano, Luria buscava entender “como” esse dano impactava o comportamento, o pensamento, a linguagem, a memória e a emoção do indivíduo.
A proposta de Luria — que falaremos mais adiante — era radical em sua época. Ele sugeria que o cérebro funcionava como um sistema integrado de unidades, e que a compreensão do comportamento só fazia sentido se analisada em conjunto com o funcionamento dessas unidades. Seu trabalho com soldados feridos na Segunda Guerra Mundial e pacientes com lesões cerebrais deu origem a uma abordagem que hoje é a base da avaliação neuropsicológica moderna.
Com o tempo, a neuropsicologia foi se afastando de uma visão puramente psiquiátrica dos transtornos mentais — aquela que reduzia sintomas a desequilíbrios químicos ou a categorias diagnósticas fixas — e passou a valorizar as funções cognitivas como núcleo da compreensão clínica.
Déficits atencionais, disfunções executivas, dificuldades de processamento emocional… tudo isso começou a ser avaliado com mais precisão na neuropsicologia, e passou a guiar não apenas o diagnóstico, mas também a reabilitação.
Autores como Edith Foa, Lezak, Malloy-Diniz e Abrisqueta-Gomes fortaleceram o campo com instrumentos padronizados, evidências empíricas e modelos clínicos integrativos. A neuropsicologia deixou de ser um “luxo” da neurologia e passou a ser uma necessidade clínica em saúde mental.
Hoje, a virada digital nos impõe um novo desafio: como continuar esse legado com ferramentas que potencializam a prática clínica da neuropsicologia? A resposta está na sinergia entre o rigor metodológico da neuropsicologia e a agilidade analítica da IA.
As 3 unidades funcionais de Luria
Para entender verdadeiramente a potência da neuropsicologia — e o motivo pelo qual ela dialoga com tanta fluidez com ferramentas contemporâneas como a inteligência artificial — é fundamental revisitarmos um dos pilares conceituais mais robustos da área: o modelo das três unidades funcionais do cérebro, proposto por Aleksandr Romanovich Luria. Mais do que um mero esquema teórico, esse modelo representa uma virada de chave na compreensão da mente humana enquanto sistema complexo, vivo, integrado e funcionalmente articulado.
Longe de ser uma teoria meramente localizada em estruturas anatômicas, o modelo das três unidades funcionais nos convida a enxergar o cérebro como um organismo em movimento, com zonas que se comunicam, se autorregulam e, juntas, compõem aquilo que chamamos de experiência consciente. Ainda hoje, décadas após sua formulação, esse arcabouço continua sendo uma referência obrigatória na clínica de neuropsicologia — não apenas por sua elegância explicativa, mas por sua aplicabilidade prática nos processos de avaliação, intervenção e reabilitação cognitiva.
Primeira Unidade: Ativação e regulação do tônus cortical
A primeira unidade funcional, centrada majoritariamente nas estruturas do tronco cerebral — especialmente na formação reticular —, é responsável por regular o estado geral de ativação do sistema nervoso central. Estamos falando aqui da base fisiológica da vigília, da atenção sustentada, da disposição para responder ao ambiente. É a engrenagem inicial que prepara o cérebro para funcionar como uma máquina consciente.
Essa unidade funciona como um interruptor interno, que liga ou desliga nossa capacidade de estar alertas e atentos. Quando essa função falha, o sujeito pode apresentar desde sonolência patológica até um apagamento quase total da capacidade de engajamento com o mundo externo. Em contextos clínicos, isso se manifesta em quadros de apatia, hiporresponsividade, perda de iniciativa e lentidão motora — sinais frequentemente observados em transtornos depressivos maiores, encefalopatias ou síndromes de fadiga crônica.
Além disso, o tônus cortical regulado por essa unidade está profundamente ligado à motivação. Não se trata apenas de “estar acordado”, mas de “querer agir”.
É aqui que compreendemos, de maneira revolucionária, que muitas expressões de sofrimento psíquico não são fracassos de vontade ou fraquezas emocionais, mas consequências diretas de um sistema de ativação cerebral que não está funcionando adequadamente.
Segunda Unidade: Recepção, análise e armazenamento das informações
A segunda unidade funcional é responsável por todo o processamento das informações que vêm do mundo externo. Ela compreende as zonas occipitais (ligadas à visão), temporais (audição e linguagem) e parietais (integração sensorial e orientação espacial), e atua como um centro analítico, encarregado de decodificar, organizar e armazenar os estímulos que recebemos a cada segundo.
É essa unidade que nos permite ver um objeto, reconhecer sua forma, escutar uma voz, compreender o significado de uma palavra, lembrar de uma experiência passada e integrá-la à nossa narrativa pessoal. Quando há comprometimentos nesse circuito, observamos sintomas como agnosias (incapacidade de reconhecer estímulos apesar da percepção intacta), afasias (distúrbios na linguagem expressiva ou receptiva), amnésias (perda de memória episódica ou semântica) e desorientações espaciais.
Na clínica, disfunções nessa unidade são amplamente encontradas em quadros de demência (como Alzheimer), transtornos do espectro autista (TEA), TDAH, e síndromes neurodegenerativas. Compreender essas manifestações a partir do modelo de Luria nos permite mapear com precisão quais áreas do processamento estão preservadas e quais precisam de suporte, evitando abordagens generalistas ou baseadas apenas em sintomas comportamentais superficiais.
Mais do que apenas “ver” e “ouvir”, essa unidade organiza a cognição perceptiva — ela constrói a base sobre a qual nossas interpretações do mundo se sustentam. Sem ela, estaríamos condenados a um presente fragmentado, desprovido de significado e continuidade. Por isso, a importância dessa segunda engrenagem vai muito além da neurociência: ela toca o próprio tecido da subjetividade.
Terceira Unidade: Programação, regulação e verificação da atividade
A terceira unidade funcional do cérebro, localizada nos lóbulos frontais, pode ser vista como o grande maestro da atividade psíquica voluntária. Ela é responsável por planejar, iniciar, monitorar, ajustar e finalizar comportamentos complexos. Estamos diante do núcleo executivo da mente — aquele que define metas, organiza sequências, inibe impulsos e antecipa consequências.
Essa é a área onde a liberdade se materializa em ação, onde o desejo se transforma em projeto, e o pensamento ganha corpo no comportamento. Disfunções nessa unidade têm impactos profundos na vida cotidiana: dificuldade de organização, impulsividade, rigidez cognitiva, tomada de decisão ineficaz, procrastinação e descontrole emocional são sintomas diretamente ligados à disfunção frontal.
Na neuropsicologia, os comprometimentos dessa unidade aparecem com força em transtornos como o TDAH, a esquizofrenia, o transtorno bipolar e lesões frontais de diversas etiologias. São casos nos quais o sujeito, mesmo com boas habilidades cognitivas básicas (como memória e linguagem), se vê incapaz de colocar sua vida em ordem — como se lhe faltasse uma “mão interna” que organizasse as peças do tabuleiro.
A grande sacada do modelo de Luria está justamente na interdependência dessas três unidades.
Nenhuma funciona sozinha. O sujeito deprimido pode ter um bom raciocínio lógico (segunda unidade), mas sem ativação (primeira unidade), ele simplesmente não age. O paciente com TDAH pode estar motivado (primeira unidade) e compreender bem o que precisa ser feito (segunda), mas falha na regulação da execução (terceira). Essa compreensão sistêmica é o que torna a neuropsicologia uma ciência profundamente clínica — e não apenas descritiva.
Avaliação neuropsicológica: Métodos, funções e aplicações
A avaliação neuropsicológica não deve ser compreendida apenas como um conjunto de testes aplicados em consultório. Ela é, antes de tudo, um processo investigativo minucioso, de natureza clínica e científica, que busca mapear com profundidade o funcionamento cognitivo, comportamental e afetivo de um indivíduo.
Trata-se de uma metodologia que alia:
- Escuta qualificada
- Análise contextual
- Aplicação técnica rigorosa
Sustentada por fundamentos da neuropsicologia, da psicometria e da psicopatologia. O objetivo não é apenas identificar déficits ou habilidades preservadas, mas compreender como essas funções se articulam no cotidiano, impactando desde o desempenho escolar até as relações sociais e a autonomia no trabalho.
Esse processo parte de uma hipótese diagnóstica inicial — ou de uma demanda trazida pela escola, por familiares, por profissionais de saúde mental ou pelo próprio indivíduo — e se desdobra em diferentes etapas: entrevista clínica, anamnese detalhada, escolha criteriosa de instrumentos validados e normatizados para a população-alvo, aplicação em ambiente controlado, observação qualitativa da conduta durante os testes e posterior análise integrada dos dados.
Ou seja, a avaliação neuropsicológica é, por definição, interdisciplinar e contextual. Ela exige do profissional uma escuta atenta, sensibilidade clínica e sólida formação teórica para que os resultados não sejam interpretados de forma mecânica ou reducionista.
Funções avaliadas: O mapa da cognição
Entre as principais funções cognitivas avaliadas, destacam-se:
- Atenção: nas suas formas sustentada (manter o foco ao longo do tempo), seletiva (filtrar estímulos relevantes) e dividida (gerenciar múltiplas tarefas simultâneas). Déficits nessa área podem comprometer significativamente o aprendizado, a organização da rotina e a capacidade de seguir instruções complexas.
- Memória: tanto de curto quanto de longo prazo, incluindo memória de trabalho, episódica e semântica. Essa função está diretamente associada ao desempenho escolar e à autonomia funcional, sendo com frequência prejudicada em quadros como TDAH, demências e depressão.
- Linguagem: compreendendo aspectos receptivos (entendimento verbal) e expressivos (produção verbal), além da linguagem pragmática, que envolve o uso adequado da linguagem nas interações sociais.
- Praxias: capacidades motoras aprendidas, como a realização de gestos simbólicos ou a construção de formas geométricas — funções frequentemente comprometidas em quadros neurológicos ou no Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação.
- Funções executivas: esse domínio inclui habilidades complexas como planejamento, tomada de decisão, controle inibitório, monitoramento de erros, alternância de tarefas e flexibilidade cognitiva. Trata-se de um dos principais focos da avaliação neuropsicológica, especialmente em casos de TDAH, esquizofrenia, lesões cerebrais ou quadros neurodegenerativos.
- Cognição social e teoria da mente: essenciais para a empatia, compreensão de emoções alheias, identificação de intenções e navegação em contextos sociais complexos. Essas habilidades são frequentemente afetadas em transtornos do espectro autista (TEA), depressão profunda e quadros psicóticos.
Instrumentos utilizados
A escolha dos instrumentos é feita com base em diversos critérios, como faixa etária, nível de escolaridade, hipótese diagnóstica, finalidade da avaliação (diagnóstico, reabilitação, orientação escolar ou ocupacional), além das particularidades culturais e linguísticas do indivíduo avaliado.
Entre os instrumentos mais utilizados no contexto brasileiro contemporâneo, destacam-se:
- NEUPSILIN: uma bateria breve que avalia múltiplas funções cognitivas em adultos, como memória, atenção, linguagem, raciocínio lógico e orientação temporal e espacial. É especialmente útil em triagens clínicas e acompanhamentos evolutivos.
- ADOS-2 (Autism Diagnostic Observation Schedule): protocolo estruturado e padronizado, considerado padrão-ouro para avaliação do TEA. Sua aplicação exige treinamento especializado e sensibilidade clínica, pois envolve tarefas interativas e análise de comportamentos sutis.
- M-CHAT (Modified Checklist for Autism in Toddlers): instrumento de triagem precoce para autismo, aplicado em crianças pequenas. Embora não configure diagnóstico, é uma ferramenta importante para rastreamento e encaminhamento precoce.
- AQ-10 (Autism Spectrum Quotient – versão reduzida): escala de autorrelato útil para triagem rápida de características autísticas em adultos, especialmente em contextos ambulatoriais e de saúde mental.
Além desses, há uma vasta gama de testes psicométricos, entrevistas estruturadas, escalas funcionais e observações ecológicas que podem ser incluídas conforme o caso.
Barreiras e oportunidades tecnológicas
Apesar de sua relevância, a avaliação neuropsicológica tradicional enfrenta uma série de obstáculos que dificultam seu acesso amplo e equitativo. Entre os principais desafios, podemos citar:
- Custo elevado: muitos testes são importados, exigem profissionais especializados e demandam tempo significativo de aplicação e análise.
- Duração extensa: em geral, o processo completo pode levar de 8 a 15 horas, entre entrevistas, aplicação de testes e elaboração do laudo.
- Necessidade de presença física: embora a avaliação remota esteja se expandindo, muitas etapas ainda exigem ambiente controlado e contato direto com o paciente.
- Escassez de profissionais: há um número insuficiente de neuropsicólogos devidamente formados e capacitados, especialmente em regiões periféricas e no interior do país.
É nesse cenário que a inteligência artificial se apresenta como uma força potencialmente revolucionária, uma vez que ferramentas baseadas em IA podem automatizar partes do processo — como a aplicação de testes padronizados, correção estatística e organização preliminar dos dados — otimizando o tempo do profissional e ampliando o acesso à avaliação qualificada.
Além disso, sistemas inteligentes podem sugerir hipóteses diagnósticas, cruzar dados de múltiplas fontes e oferecer comparações com bases normativas massivas, o que aumenta a precisão e a personalização do atendimento.
Reabilitação neuropsicológica
Se a avaliação é o ponto de partida para compreender o funcionamento cognitivo, a reabilitação neuropsicológica é o caminho possível para restaurar, compensar ou reorganizar habilidades comprometidas. Fundamentada na neuroplasticidade — ou seja, na capacidade do cérebro de modificar suas conexões a partir de estímulos e experiências —, essa abordagem terapêutica se estrutura a partir de objetivos claros, definidos de forma interdisciplinar, e que respeitam os limites e potencialidades de cada indivíduo.
A reabilitação não é uma jornada solitária, nem do paciente, nem do profissional. Ela requer o envolvimento de uma equipe composta por neuropsicólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos clínicos, fonoaudiólogos, pedagogos, psiquiatras e familiares. Cada membro da equipe contribui com seu olhar específico, e o plano terapêutico só é eficaz quando há comunicação integrada, metas mensuráveis e monitoramento contínuo da evolução.
Estratégias de intervenção
As intervenções da neuropsicologia variam conforme o quadro clínico, mas geralmente incluem:
- Treinamento cognitivo estruturado: séries de exercícios graduais e adaptados, que buscam fortalecer funções como atenção, memória e raciocínio.
- Estratégias compensatórias: uso de ferramentas externas, como agendas visuais, alarmes, checklists e recursos tecnológicos para lidar com déficits persistentes.
- Intervenções em habilidades sociais: técnicas de role-play, reconhecimento de expressões faciais, mediação de conflitos e treino de empatia, fundamentais para indivíduos com TEA ou transtornos de personalidade.
- Autorregulação emocional: uso de técnicas comportamentais e cognitivas para desenvolver autocontrole, tolerância à frustração e enfrentamento de crises.
- Ambientação terapêutica: adaptação de espaços físicos e rotinas para reduzir sobrecargas sensoriais, aumentar a previsibilidade e favorecer a autonomia.
Evidências científicas e o papel da tecnologia
Estudos longitudinais e ensaios clínicos controlados mostram que a reabilitação neuropsicológica é eficaz para melhorar a funcionalidade e qualidade de vida em diversos quadros clínicos, como:
- Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)
- Transtornos do Espectro Autista (TEA)
- Depressão resistente ao tratamento
- Esquizofrenia e transtornos psicóticos
- Doença de Alzheimer e outras demências
Pesquisadores como Lezak, Malloy-Diniz e Abrisqueta-Gomes destacam que os melhores resultados são obtidos quando a intervenção é regular, prolongada e envolve ativamente o paciente e sua rede de apoio. Ou seja, a neuropsicologia não apenas avalia: ela transforma com base em ciência.
Hoje, novas ferramentas tecnológicas ampliam ainda mais esse potencial: plataformas gamificadas, aplicativos de treino cognitivo, ambientes digitais adaptativos e sistemas de lembrete automatizados estão tornando a reabilitação mais envolvente, personalizada e acessível. Quando bem utilizadas, essas soluções não substituem o terapeuta, mas o potencializam.
Inteligência Artificial como aliada do diagnóstico neuropsicológico
Por mais robusta que seja, a avaliação neuropsicológica tradicional tem seus limites. Ela exige tempo, presença física, profissionais altamente qualificados e aplicação criteriosa de instrumentos padronizados. Em muitos contextos, especialmente fora dos grandes centros urbanos, isso se torna inviável.
A IA entra nesse cenário como uma catalisadora — não para substituir o neuropsicólogo, mas para ampliar sua capacidade de análise e intervenção.
Plataformas como o AURA-T, desenvolvida pela Braine, são exemplos de como a inteligência artificial pode transformar o processo de avaliação. Utilizando algoritmos treinados com grandes bases de dados clínicos e comportamentais, o AURA-T é capaz de detectar padrões sutis em respostas cognitivas e emocionais, sugerindo hipóteses diagnósticas que depois são validadas pelo especialista humano. O resultado? Um processo mais ágil, acessível e preciso.
O uso da IA também permite algo que antes era praticamente impossível: a avaliação contínua e adaptativa. Em vez de um laudo estático e pontual, o paciente pode ser acompanhado ao longo do tempo, com reavaliações dinâmicas que medem o impacto das intervenções.
Isso é particularmente valioso em casos de reabilitação neuropsicológica, transtornos do neurodesenvolvimento e quadros neurodegenerativos.
Mais do que automatizar, a IA qualifica. Ela libera o profissional de tarefas repetitivas e analíticas para que possa se dedicar ao que mais importa: o vínculo terapêutico, o raciocínio clínico e a tomada de decisões éticas e humanas.
Braine: tecnologia com alma para uma neurodiversidade sem fronteiras
A Braine nasceu de uma inquietação profunda: por que tantas mentes brilhantes ainda são silenciadas por estruturas que insistem em padronizar o pensamento humano? Em vez de aceitar esse cenário, escolhemos questioná-lo.
Somos uma empresa de tecnologia criada para transformar as lógicas excludentes do sistema e colocar a inteligência artificial a serviço da inclusão.
Nosso foco está nas pessoas neurodivergentes — aquelas que, por muito tempo, foram tratadas como “casos a serem corrigidos”, e não como sujeitos com direitos, saberes e potencialidades únicas. Desenvolvemos soluções que apoiam o diagnóstico, o cuidado e o cotidiano dessas pessoas com respeito, ciência e escuta ativa. Não queremos apenas adaptar o mundo a elas; queremos transformá-lo com elas.
Na Braine, acreditamos que o futuro não será verdadeiramente inovador enquanto não for também inclusivo. Por isso, nossas ferramentas — como o AURA-T e a Bruna — são pensadas para quebrar barreiras, descomplicar acessos e empoderar profissionais, famílias e usuários a partir de dados, sensibilidade e autonomia.
Tecnologia não é neutralidade: é escolha.
E nós escolhemos estar ao lado das mentes que foram historicamente subestimadas, para que elas possam ocupar, com dignidade, os espaços que sempre lhes pertenceram.
IA com propósito e inclusão com estratégia
Na Braine, cada projeto nasce de uma escuta real das necessidades de pessoas neurodivergentes, suas famílias e profissionais que as acompanham. Mais do que ferramentas tecnológicas, criamos pontes entre o conhecimento científico e o cotidiano de quem vive às margens de um sistema que ainda exclui.
Vamos aos protagonistas dessa jornada:
Aura-T ou Autism Universal Rapid Assessment Tool
Ferramenta Universal Rápida de Avaliação do Autismo
Inteligência artificial a serviço de diagnósticos mais claros, inclusivos e aplicáveis
O Aura-T é, antes de tudo, uma ferramenta de tradução. Ele pega o que muitas vezes é vago, subjetivo ou travado em laudos técnicos e transforma em clareza. E faz isso com base em inteligência artificial aplicada ao reconhecimento de padrões de neurodivergência — como TDAH, autismo e dislexia — a partir de dados concretos e rastreáveis. Não é chute, não é achismo, não é generalização. É ciência processada de forma inteligente.
Seu propósito é acelerar diagnósticos sem perder profundidade, oferecendo uma visão precisa e objetiva das necessidades cognitivas de cada indivíduo. Mas o Aura-T não para aí. Ele avança para onde a maioria das ferramentas para: no depois.
Depois do diagnóstico, o que fazemos com ele? Como garantimos que aquela informação gere transformação real?
É aí que entra o diferencial do Aura-T: ele sugere planos personalizados de adaptação e desenvolvimento. Ele entende que cada pessoa carrega não só um conjunto de desafios, mas também uma configuração única de potenciais. E oferece caminhos para que esses potenciais floresçam — especialmente dentro do ambiente de trabalho, onde a diversidade cognitiva precisa deixar de ser um tabu e virar um ativo.
Para as empresas, o Aura-T é mais do que uma ferramenta diagnóstica: é uma ponte entre inclusão e desempenho. Ele entrega dados valiosos para quem está tentando montar equipes diversas de verdade, não só no discurso. E faz isso com ética, privacidade e responsabilidade.
Bruna ou Behavioral Responsive Unified Neurodiversity Assistant
Assistente Responsiva e Unificada para Neurodiversidade – Nossa IA de campo para lidar com o que ninguém vê — e quase ninguém fala
Se o Aura-T nasce na raiz do diagnóstico e se estende para o desenvolvimento, a Bruna nasce no improviso do cotidiano. Ela foi criada para agir onde a teoria falha: na prática. Mais especificamente, na prática complexa, imprevisível e muitas vezes solitária de quem vive — ou cuida de quem vive — crises relacionadas à neurodivergência.
A Bruna não é uma assistente passiva. Ela é um radar ativo, sempre ligado. Ela observa os sinais sutis que geralmente passam despercebidos por colegas, professores, gestores ou até mesmo profissionais da saúde. Sinais que anunciam uma crise antes dela se instalar. Ela detecta padrões, interpreta comportamentos, cruza dados com histórico e, a partir disso, propõe intervenções práticas e individualizadas, com base no perfil único de cada pessoa.
Isso significa que a Bruna não vai te dizer o óbvio. Ela vai te apontar o que ninguém mais estava vendo.
Para cuidadores, ela é suporte. Para famílias, é alívio. Para psicólogos e gestores, é estrutura. E para a pessoa neurodivergente, ela é autonomia em forma de cuidado.
E, importante: a Bruna não substitui o humano. Ela soma. Ela oferece aquilo que a exaustão do dia a dia nos rouba — tempo para pensar, clareza para agir e previsibilidade diante do caos.
Care360 ou Caring Accessible Responsible Ecosystem 360
Ecossistema Responsável, Acessível e de Cuidado 360 – A estrutura que falta para documentar, integrar e coordenar o cuidado
O Care360 ainda está em desenvolvimento, mas já nasce com um propósito claro: ser o cérebro da operação clínica. Ele será uma plataforma de prontuário digital inteligente, com capacidade para integrar dados, gerar relatórios automáticos, documentar planos individualizados e facilitar o trabalho conjunto entre diferentes profissionais de saúde.
Num mundo onde a clínica muitas vezes se sustenta em anotações soltas, arquivos perdidos e memória emocional, o Care360 quer ser o contrário disso: consistência, organização e visão panorâmica. E tudo isso com uma interface simples, centrada na experiência de quem realmente usa a ferramenta.
Se o Aura-T nos ajuda a enxergar, e a Bruna nos ajuda a agir, o Care360 vai nos ajudar a manter o ciclo funcionando com inteligência, ética e fluidez.
Esses são só os primeiros passos. Nosso compromisso está em expandir cada vez mais as possibilidades de uma tecnologia que reconhece as diferenças e atua para torná-las forças de transformação. Cada projeto é uma resposta pragmática a um problema urgente. Porque inclusão sem ação é só discurso bonito.
Conheça o blog da Braine: ideias rebeldes para um futuro mais humano
Se você chegou até aqui, é porque sabe que inclusão não se faz com boa vontade — se faz com conhecimento, atitude e escuta. No nosso blog, mergulhamos fundo em temas como neurodiversidade, saúde mental, inovação e tecnologia inclusiva. Tudo isso com uma linguagem acessível, crítica e com aquele toque de rebeldia que move a Braine.
Lá você encontra reflexões provocativas, guias práticos e análises que desafiam o senso comum. É conteúdo feito para quem quer pensar diferente — e agir diferente.
Clique aqui e acesse o blog da Braine — porque mudar o mundo começa com mudar a forma como você o enxerga. E, claro, esteja presente no II Encontro de Informação e Saúde: Neurodiversidade 2025 nos dias 4 a 8 de agosto— um espaço para ampliar diálogos e redesenhar, juntos, os caminhos da saúde mental.