Neste Dia das Mães descubra os desafios enfrentados por mães atípicas e escolha ser parte da mudança para as mães que vivem as dificuldades da maternidade neuroatípica na pele todos os dias.
Ser mãe já é por si só uma tarefa invisivelmente gigantesca.
Mas ser uma mãe atípica, aquela que cria uma criança neurodivergente, é assumir uma jornada sem manual, sem folga, sem garantias e, muitas vezes, sem apoio.
Essas mulheres carregam nos ombros uma carga emocional de uma estrutura política que torna suas dores invisíveis para toda a sociedade, fazendo com que essas mães lutem todos os dias pelos seus direitos e pelos direitos de pessoas neurodivergentes.

Maternidade atípica não cabe no comercial da TV
Mãe atípica é um termo criado para que mães de crianças neurodivergentes possam se reconhecer e se acolher nessa dificil caminhada que é a maternidade. Ele define com precisão uma realidade negligenciada pelas campanhas publicitárias de Dia das Mães.
Enquanto as vitrines romantizam a maternidade com flores e cafés na cama, essas mulheres estão na fila do SUS tentando marcar uma consulta com neuropediatra, estão se desdobrando entre terapias, brigas com convênios e escolas despreparadas para receber crianças atípicas.
A verdade é que para muitas delas não há espaço para descanso ou lazer, pois as suas rotinas são atravessadas por um esgotamento psíquico crônico.
Uma revisão nacional publicada na Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia escancara a realidade dolorosa de mães atípicas que acabam enfrentando altos níveis de estresse, ansiedade e depressão devido a solidão vivida.
Esses sintomas são resultado de uma sobrecarga imposta por um sistema que delega toda a responsabilidade do cuidado a uma única pessoa e sem oferecer suporte adequado. Essa pressão constante é desgastante, injusta e cobram um preço muito alto para a saúde mental dessas mulheres, que seguem lutando em um cenário de invisibilidade e solidão.
Sozinhas na linha de frente
E sejamos claros sobre o cenário atual brasileiro, segundo a pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas o Brasil tem mais de 11 milhões de mães que criam os filhos sozinhas.
Em muitos casos, essas mulheres são mães de crianças neuroatípicas, e o peso da maternidade acaba ficando muito maior.
A criação solo é uma realidade brutal, seja porque os pais se afastam emocionalmente, financeiramente, ou porque nunca estiveram presentes de verdade. E no final, sobra para elas o que é mais difícil: a constância, a resiliência e o enfrentamento de todas as dificuldades e responsabilidades que um filho requer.
E não se trata só de ausência, trata-se de um sistema que já pressupõe que a mãe vai dar conta. Que naturaliza a sobrecarga e que joga nos ombros femininos a responsabilidade pelo tratamento, pelo cuidado integral.
O mercado de trabalho não está preparado
Quando uma mãe de criança autista decide deixar o mercado de trabalho, acredite, na maior parte dos casos isso não foi por escolha. A falta de tempo para associar as atividades de mãe e de profissional ao mesmo tempo faz com que essas mães tenham que escolher entre o cuidado do filho e o emprego.
Essa escolha não é justa para ninguém.
A falta de lideranças empáticas que não entendem – e nem se capacitam para entender – sobre a importância da compreensão da realidade atípica vivida por mães do mundo todo acaba excluindo essas mulheres talentosas do mercado de trabalho.
Estudos e propostas como o Projeto de Lei 1790/21, que defende o trabalho remoto para pais e mães de crianças com TEA, apontam uma direção possível.
Mas a execução ainda é frágil.
No setor público, há previsão de redução de jornada sem perda salarial, já no setor privado….
Muitas vezes é preciso judicializar para conseguir o mesmo direito. E o que isso gera? Mães sendo empurradas para a informalidade, buscando viver como autônomas, ou em subempregos que aumentam mais ainda a exaustão de criar alguém, cuidar da casa, da vida e da sobrevivência.
Essas mães são obrigadas a se deixarem de lado.
E é preciso lembrar: isso se agrava quando falamos de mulheres pretas, periféricas, que enfrentam barreiras adicionais de acesso, de reconhecimento e de sustentação emocional.
Autocuidado não é um spa, é uma rede
Não venha falar de autocuidado como se ele fosse possível para todas as mulheres. Mães atípicas não precisas de dicas de skincare ou de rotinas saudáveis que envolvem acordar 3 da manhã para correr.
Mães atípicas precisam de tempo para dormir, precisam de auxílio para profissionalização, precisam de um SUS funcional e precisam, principalmente, de rede de apoio (familiar e governamental).
O autocuidado de uma mãe atípica é poder passar por uma terapia acessível, amigos que seguram a barra, profissionais que escutam sem julgar, escolas que acolhem sem duvidar.
As redes de mães atípicas tem crescido cada vez mais com grupos no WhatsApp, perfis nas redes sociais, movimentos locais de acolhimento e informação. Assim elas podem dar suporte umas as outras.
Flores não servem, políticas de inclusão sim.
Neste Dia das Mães, mães atípicas não querem ouvir o clichê do quanto elas são fortes, elas já sabem disso.
As mães precisam de reconhecimento e acesso a todos os espaços que são seus por direito. ELas precisam de descanso, de ambientes de trabalho que respeitem suas necessidades, de lideranças que saibam escutar e reconhecer suas necessidades como mães.
E além de tudo, essas mães precisam de tempo para serem, simplesmente, mulheres. Mulheres que existem para além do papel de cuidadoras.
Como a Braine pode ajudar?
Na Braine, a gente acredita que a neurodiversidade precisa ser vista com seriedade, responsabilidade e acolhimento. Por isso, nossas soluções em tecnologia e bem-estar mental não são feitas apenas para neurodivergentes, mas também para quem cuida deles.
A gente olha para essas mães não como heroínas, mas como mulheres reais, que merecem suporte real. Sabemos que nenhuma tecnologia substitui uma rede de apoio, mas acreditamos que ela pode ser um ponto de sustentação.
Conheça nosso novo produto voltado para diagnóstico e tratamento de neurodivergências e participe do nosso próximo Encontro de Informação e Saúde: Neurodiversidade 2025 nos dias 4 a 7 de agosto.
Neste Dia das Mães, nosso convite é simples: escute, apoie, reconheça. E, acima de tudo, transforme. Porque cuidar de quem cuida também é um ato de justiça.
Referências:
AUTISMO E REALIDADE. Como é ser mãe de crianças autistas?. São Paulo, 19 maio 2023. Disponível em: https://autismoerealidade.org.br/2023/05/19/como-e-ser-mae-de-criancas-autistas/. Acesso em: 8 maio 2025.
DIÁRIO PCD. Direitos de mães de crianças com espectro autista no mercado de trabalho. 1 maio 2024. Disponível em: https://diariopcd.com.br/2024/05/01/direitos-de-maes-de-criancas-com-espectro-autista-no-mercado-de-trabalho/. Acesso em: 8 maio 2025.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Trabalho remoto para mães de autistas. Brasília, 15 dez. 2021. Disponível em: https://www.camara.leg.br/tv/764246-trabalho-remoto-para-maes-de-autistas/. Acesso em: 8 maio 2025.