Descubra os 8 maiores mitos sobre saúde mental que ainda dominam conversas, decisões e julgamentos no trabalho e na vida. Desconstrua o senso comum com evidências, empatia e coragem
Falar sobre saúde mental virou tendência nas redes sociais de grandes empresas, mas por trás desse verniz de cuidado, ainda operam crenças arcaicas e uma epidemia de desinformação que contamina até quem se acha esclarecido. A verdade é que, mesmo com o avanço da ciência, os mitos sobre saúde mental continuam vivos e perigosamente ativos no imaginário coletivo.
Neste artigo, vamos jogar luz sobre dez dessas crenças equivocadas com 8 mitos que muitos ainda acreditam.
Mito 1: “Ansiedade é só preocupação demais; todo mundo tem isso.”

Ansiedade é uma emoção humana natural, sim. Mas transtorno de ansiedade é outra história. Confundir as duas coisas é como dizer que uma gripe é igual a uma pneumonia.
A primeira é passageira; a segunda, se negligenciada, pode te derrubar de vez. Quando dizemos “todo mundo é ansioso”, estamos banalizando uma condição clínica que atinge milhões de pessoas e pode ser absolutamente incapacitante.
Mito 2: “Só tem depressão quem passou por algo traumático.”
Existe uma crença persistente de que a depressão precisa de uma “justificativa”: a perda de alguém, uma demissão, um fim de relacionamento. Mas e quando ela chega sem bater à porta, sem explicação racional, apenas como um apagamento lento da vontade de existir?
A depressão não é uma reação proporcional a eventos, ela é uma condição multifatorial: genética, bioquímica, hormonal, ambiental, psicológica.
Às vezes, ela se instala silenciosamente, como uma infiltração na estrutura da alma. O sujeito sorri, trabalha, entrega, mas está se desfazendo por dentro. Essa invisibilidade, aliada ao mito de que “algo ruim precisa ter acontecido”, apenas reforça o silêncio e retarda o diagnóstico.
Buscar ajuda não exige um trauma, exige apenas o entendimento da necessidade de ser escutado por um especialista para curar aquilo que machuca, para olhar para si com mais cuidado e menos julgamento.
Mito 3: “Transtorno mental é coisa de gente louca.”
Poucas palavras carregam tanto peso histórico quanto “loucura”. Essa palavra carrega estigmas, exclusão e violência histórica.
Reduzir qualquer transtorno mental a esse rótulo é desumano — e absolutamente errado. Transtornos mentais são condições clínicas que variam de leves a graves, e que, na maioria dos casos, são tratáveis com acompanhamento médico e psicoterapêutico.
Depressão, ansiedade, TOC, TDAH, transtornos alimentares, bipolaridade, fobias — nenhuma dessas condições é sinônimo de descontrole ou insanidade. A grande maioria das pessoas que enfrentam desafios mentais está em pleno uso de suas capacidades, vivendo, produzindo, construindo.
E muitas pessoas fazem isso com um esforço invisível diário, digno de reconhecimento.
Mito 4: “Terapia é só para quem tem problemas sérios.”
Muita gente ainda enxerga a psicoterapia como um último recurso. Só se recorre quando tudo desaba. Quando a ansiedade vira ataque de pânico, quando o casamento implode, quando o burnout é diagnosticado com atestado médico. Mas essa é uma visão de saúde como conserto, não como prevenção. E ela nos custa caro — emocional, financeira e humanamente.
Terapia é uma ferramenta de autoconhecimento, de desenvolvimento humano, de ampliação da consciência. É o espaço onde se afina o instrumento antes do show, e não só depois que a corda arrebenta. Esperar a vida te esmagar para buscar ajuda é como só colocar cinto de segurança depois do acidente.
A mente, como qualquer parte do corpo, precisa de cuidado contínuo. Terapia não é para quem está “ruim”. É para quem quer estar melhor, mais lúcido, mais presente, mais inteiro.
Mito 5: “Remédio psiquiátrico vicia e transforma as pessoas em zumbis.”
Esse é um dos mitos mais perigosos. Medicamentos psiquiátricos não são balas mágicas, mas também não são vilões químicos. São ferramentas que precisam ser utilizadas com critério, acompanhamento e informação.
Sim, há efeitos colaterais.
Sim, há ajustes de dosagem.
Sim, a individualidade biológica conta muito.
Mas ignorar o impacto positivo que esses medicamentos têm na vida de milhões de pessoas é pura desinformação — muitas vezes travestida de “preocupação natural”. Para muita gente, os psicofármacos são o que torna possível levantar da cama, dormir com regularidade, voltar a trabalhar, se relacionar, viver com dignidade.
Mito 6: “É tudo questão de força de vontade.”
Você não diz a um paciente com insuficiência renal que ele precisa “fazer um esforço para filtrar melhor o sangue”. Então por que dizemos isso a alguém com depressão, transtorno de ansiedade ou síndrome do pânico?
A saúde mental é modulada por fatores que extrapolam a força de vontade: há componentes químicos, neurológicos, hormonais, traumas, desigualdades, contextos sociais e familiares que influenciam muito.
Culpar o sujeito pelo próprio sofrimento é um atestado de ignorância. E a vergonha adoece. A força de vontade é bem-vinda — mas ela não substitui tratamento. Nem deve ser usada como instrumento de opressão.
Mito 7: “Não parece que você tem depressão, você é tão feliz!”
Muita gente ainda acha que uma pessoa em sofrimento psíquico se mostra o tempo todo triste, isolada, chorosa.
Mas a realidade é outra.
A dor psíquica é silenciosa, disfarçada, às vezes até se adapta aos lugares que ela se encontra, com sorrisos e risadas que disfarçam a dor interna.
Quantos humoristas, artistas e líderes carismáticos descobriram-se profundamente deprimidos depois que suas mortes trágicas nos pegaram de surpresa? Robin Williams e Chester Bennington são alguns dos exemplos dessa triste situação.
O riso pode ser escudo
É preciso parar de julgar o estado mental das pessoas com base em selfies, sorrisos, piadas ou entregas profissionais. A dor emocional não se mede pela aparência, se sente no cotidiano, nas entrelinhas, na escuta cuidadosa.
Mito 8: “Trabalho não é lugar para falar sobre seus problemas.”
Ignorar a saúde mental no ambiente corporativo é apostar num modelo de gestão ultrapassado, caro e desumano. É fingir que a depressão não afeta performance, que o luto, a ansiedade e o estresse não influenciam diretamente na criatividade, nas relações e nos resultados.
Empresas que cultivam ambientes emocionalmente seguros têm menos rotatividade, menos afastamentos, mais inovação e mais engajamento.
Mitos matam, verdades libertam.
Desmistificar a saúde mental é mais do que um exercício intelectual — é um compromisso ético. Porque toda vez que um mito se perpetua, alguém se cala. Alguém adia ajuda. Alguém se culpa. Alguém desiste. E isso não pode mais acontecer sob o nosso olhar.
Vivemos uma era em que o conhecimento é acessível, mas o preconceito ainda é visceral. Isso exige de nós mais do que empatia: exige coragem para rever crenças, mudar práticas e abrir espaços de escuta real. Porque enquanto a saúde mental for tratada como tabu, continuaremos adoecendo em silêncio — mesmo nas empresas que dizem promover bem-estar.
Conheça a Braine
Na Braine, estamos construindo pontes entre neurociência, saúde mental, inovação e o futuro do trabalho. Nossa missão é clara: transformar o modo como as organizações enxergam e cuidam das pessoas. Acreditamos que um ambiente de trabalho emocionalmente saudável não nasce de modismos ou discursos vazios, mas de ações práticas, tecnologias humanas e lideranças conscientes.
Se você acredita que chegou a hora de virar esse jogo, te convidamos a conhecer nossos projetos, nossos conteúdos e nossas soluções. A revolução da saúde mental começa onde termina o mito — e começa a verdade.
Explore mais no blog da Braine e acompanhe de perto tudo o que estamos construindo para transformar a forma como o mundo trabalha e se cuida.
Referências:
ASATO, Sofia MR et al. A proteção jurídica relacionada às pessoas neurodivergentes dentro do Estado Democrático de Direito. ANAIS DO ENIC, 2023.
NASCIMENTO, Larissa Alves do; LEÃO, Adriana. Estigma social e estigma internalizado: a voz das pessoas com transtorno mental e os enfrentamentos necessários. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 26, p. 103-121, 2019.