Descubra 5 frases que prejudicam a sua relação com uma criança neurodivergente e como substituí-las por formas mais empáticas de comunicação. Um guia essencial para educadores e pais que querem transformar o ambiente com sensibilidade e responsabilidade.
Toda criança está em processo de formação não apenas de conhecimento, mas de identidade, vínculo e pertencimento. E nesse processo, a linguagem que usamos com ela tem peso, impacto e memória.
As palavras que dizemos aos nossos alunos não se dissolvem no ar como parecem, elas criam marcas, despertam afetos, estruturam crenças sobre o mundo e sobre si mesmas.
No contexto de ensino em diversas áreas e dentro das próprias família, isso ganha ainda mais relevância quando falamos de crianças neurodivergentes — aquelas que apresentam formas diferentes de funcionamento cognitivo, como as que vivem com TDAH, autismo, dislexia, altas habilidades, entre outras condições. E se você ainda nao souber o que é ser neurodivergente, confira o último post do nosso blog: O que é ser neurodivergente? Tudo que você precisa saber
Muitas vezes, educadores, mesmo bem intencionados, reproduzem frases automáticas ou generalizações herdadas de um modelo tradicional e pouco informado sobre as diferenças neurológicas.
O resultado? Gatilhos emocionais, desmotivação, perda de vínculo e até mesmo traumas que poderiam ser evitados com escuta, curiosidade e abertura ao novo.
Este artigo propõe um caminho de transformação: identificar cinco frases comuns que, apesar de corriqueiras, são nocivas para crianças neurodivergentes — e apresentar, em seu lugar, formas mais respeitosas, eficazes e cuidadosas de se comunicar. Porque educar é, acima de tudo, uma escolha diária entre reproduzir padrões ou criar novos futuros possíveis.

As palavras que moldam o sentir
1. Você vive no mundo da lua, por isso não aprende!
Essa frase parte da suposição equivocada de que a criança está distraída por falta de esforço ou interesse, quando, na verdade, ela pode estar enfrentando uma barreira neurológica legítima.
Para uma criança neurodivergente com TDAH, dislexia ou autismo, manter o foco da maneira tradicional pode ser uma tarefa extremamente desgastante ou até inviável em determinados contextos. A cobrança contida nessa frase frequentemente gera culpa, frustração e sensação de inadequação, reforçando a ideia de que o problema está na criança — quando, muitas vezes, está na metodologia.
O que dizer no lugar
“Vamos tentar juntos? Posso explicar de outro jeito.”, “Você quer fazer uma pausa e depois retomamos?”
- Divida as instruções em etapas pequenas, use elementos visuais e apoie-se em gestos e pausas. O foco não deve ser cobrar atenção, mas oferecer caminhos para captar o interesse de forma compatível com o funcionamento da criança.
2. Você é muito inteligente, mas não se esforça!
Essa frase descola completamente o desempenho do esforço real da criança neurodivergente, ignorando que ela pode estar enfrentando obstáculos emocionais ou cognitivos que limitam sua expressão. Crianças com altas habilidades, TDAH ou dislexia frequentemente convivem com essa cobrança paradoxal: espera-se excelência constante, mesmo quando o sistema não lhes oferece suporte. Esse tipo de colocação contribui para o desenvolvimento de ansiedade, medo de falhar e perfeccionismo tóxico.
O que dizer no lugar
“Eu vejo que tem muita coisa acontecendo aí dentro. Vamos encontrar um jeito que funcione para você?”, “Seu jeito de aprender é único e isso é um ponto forte.”
- Valorize o processo e não apenas o resultado, reconhecer o esforço sem condicioná-lo ao desempenho é essencial para nutrir autoestima e segurança.
3. Você tem que aprender a se comportar como os outros.
Essa frase impõe uma expectativa normatizada de comportamento, desconsiderando que cada criança tem formas distintas de se regular emocionalmente, processar estímulos e se expressar. Uma criança neurodivergente escuta essa cobrança com frequência, internalizando a ideia de inadequação e exclusão. Em vez de convidar à autorregulação, a frase reforça uma tentativa de moldagem pela coerção.
O que dizer no lugar
“Quero entender como posso te ajudar a se sentir mais confortável aqui.”
- Busque identificar os gatilhos emocionais ou sensoriais por trás dos comportamentos. Ensinar regulação começa pela escuta, e não pela punição.
4. Você só quer chamar atenção.
Esse tipo de frase deslegitima as emoções da criança e desvaloriza um pedido legítimo de acolhimento. Toda criança precisa ser vista, reconhecida e validada. Para uma criança neurodivergente que muitas vezes enfrenta dificuldades de expressão emocional ou comportamentos atípicos, essa frase apenas reforça o isolamento e o sofrimento.
O que dizer no lugar
“Você quer conversar um pouco ou dar uma volta comigo?” “Vamos tentar entender o que está acontecendo dentro de você agora?”
- A criança não busca atenção de forma leviana, ela busca pertencimento. E o comportamento é uma pista, a resposta deve ser curiosidade e cuidado.
5. Se você continuar assim, vai ficar sem recreio!
Por que evitar
O recreio não é uma necessidade de toda criança. Usá-lo como punição nega à criança um espaço fundamental de descanso e socialização. Especialmente para crianças neurodivergentes, esse tempo é vital para manter o equilíbrio e recarregar. Retirá-lo apenas agrava a sobrecarga, gerando mais tensão e comportamentos desafiadores.
O que dizer no lugar
“Percebi que está difícil agora, vamos fazer uma pausa e tentar de novo depois.”
- Substitua sanções por estratégias de reparação e reconexão, ensinar regulação vale mais do que impor obediência. Crianças aprendem mais quando sentem que têm escolhas e apoio.
Educação também é uma linguagem
Falar com uma criança neurodivergente é mais do que repassar conteúdos, é construir um espaço em que ela possa existir com dignidade, aprender com segurança e se desenvolver com autonomia. As palavras não são neutras — elas acolhem ou afastam, protegem ou ferem, constroem ou destroem.
Não se trata de buscar uma linguagem perfeita. Trata-se de buscar uma linguagem consciente. O educador que reconhece o impacto da fala e escolhe praticar o respeito em cada frase se torna parte de uma revolução silenciosa, mas profunda.
Na Braine, acreditamos que transformar a educação começa por transformar o olhar. E o olhar se manifesta na palavra.
Aprenda mais sobre o mundo da tecnologia aplicada a causa neurodivergente
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