Entenda as diferenças entre deficiência, transtorno e variação neurológica e por que usar os termos corretos é importante para o processo de inclusão real de pessoas neurodivergentes na sociedade
Palavras moldam mundos — literalmente.
A maneira como nomeamos algo diz muito sobre como lidamos com isso.
Não é só uma questão de semântica, é uma questão de dignidade.
Por isso, entender a diferença entre deficiência, transtorno e variação neurológica é importantíssimo se a gente quiser levar a inclusão a sério de fato.

O que é deficiência?
A definição da Organização das Nações Unidas, adotada também pelo Governo Brasileiro diz que a deficiência é o resultado da interação entre impedimentos físicos, mentais, intelectuais ou sensoriais de longo prazo e barreiras sociais que limitam a participação plena e efetiva dessas pessoas na sociedade.
Pessoas com deficiência enfrentam barreiras arquitetônicas, tecnológicas, comunicacionais e atitudinais diariamente por toda a sociedade.
Rampas ausentes, sites inacessíveis, conteúdos sem audiodescrição, ou até o simples despreparo das equipes de RH para entender um currículo diverso são exemplos claros disso.
E é aí que entra a importância de políticas públicas e iniciativas privadas, elas devem trabalhar em ações que reconheçam as necessidades de pessoas deficientes e atuem na criação de ambientes e regras favoráveis para adaptação de locais públicos e privados.
Muitas pessoas ainda acreditam que essas mudanças ocasionarão em uma “vantagem” para as pessoas deficientes. Mas como pode ser vantagem se nós estamos falando de direitos básicos para um existência digna?
Essas pessoas estão em desvantagem faz muito tempo!
A adaptação de espaços e a criação de leis que garantem o cumprimento dos direitos dessas pessoas não se trata de vantagem, e sim de equilibrar o jogo.
O que é transtorno?
Segundo o EduCapes, transtornos são condições clínicas diagnosticadas por especialistas com base em critérios técnicos.
São padrões de funcionamento mental que impactam a vida da pessoa e que geralmente exigem acompanhamento especializado.
Alguns exemplos incluem:
- Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)
- Transtorno do Espectro Autista (TEA)
- Transtornos de Ansiedade Generalizada
- Transtornos Depressivos
- Transtornos de Aprendizagem, como dislexia e discalculia
Essas condições podem afetar a concentração, a memória, o processamento de informações, a regulação emocional e a comunicação.
Em muitos casos, essas condições não são visíveis e, por isso, acabam sendo muito incompreendidas pelos neurotípicos.
Transtornos como TDAH, Transtorno do Espectro Autista ou transtornos de ansiedade não são “modinha” — são reais e muita pessoas vivem as dificuldade desses transtornos na pele diariamente.
Um diagnóstico pode virar a vida de uma pessoa da cabeça aos pés (de uma forma positiva).
A partir desse momento, a pessoa começa a compreender suas vontades e a respeitar os seus próprios limites, melhorando (e muito) na sua qualidade de vida.
Além disso, o diagnóstico correto é fundamental para garantir o direito ao tratamento adequado e para fortalecer a autoestima das pessoas que, muitas vezes, cresceram se sentindo “erradas” em um mundo que não foi feito para elas.
Leia mais sobre e sobre diagnóstico tardio e como lidar com essas questões em nosso blog
O que é variação neurológica?
Segundo o boletim Diversidade em Pauta, variação neurológica é um jeito técnico e respeitoso de dizer que existe mais de uma forma de o cérebro humano funcionar — e nenhuma delas deveria ser considerada errada por padrão.
É o conceito-base da neurodiversidade, que reconhece que pessoas autistas, com TDAH, dislexia, discalculia ou outras configurações neurológicas fazem parte da biodiversidade humana.
Esse entendimento parte da ideia de que não existe um único modo de pensar, sentir ou perceber o mundo. Há múltiplas formas de processar estímulos, comunicar ideias, organizar pensamentos — e isso é, acima de tudo, uma riqueza.
E aqui, eu reforço mais uma vez: precisamos entender que o padrão de comportamento é uma invenção social. Pessoas neurodivergentes não precisam ser consertadas, nós precisamos ser entendidos.
A ideia de neurodiversidade nos convida a ir além do olhar clínico.
Ela propõe a construção de ambientes mais flexíveis e humanos — onde as diferenças são vistas como potencialidades e não como falhas.
Por que separar esses conceitos importa?
Porque misturar tudo é confortável só pra quem nunca teve que brigar pelos seus direitos ou um mínimo de compreensão.
Quando usamos os termos de forma equivocada, criamos ruído na comunicação e reforçamos estigmas que já nos assola:
- Deficiência é um recorte jurídico-social que garante acesso a políticas públicas.
- Transtorno é uma condição clínica que requer diagnóstico profissional, intervenção adequada e acesso a políticas inclusivas.
- Variação neurológica é uma lente que amplia o entendimento sobre a diversidade cognitiva humana e combate o capacitismo estrutural que insiste em reduzir todo mundo à mesma régua.
Saber diferenciar é o mínimo. Agir a partir disso é o próximo passo.
Só a partir dessa distinção é que conseguimos lutar por políticas específicas, criar ambientes acessíveis de verdade e combater o preconceito com conhecimento.
Cada palavra certa é um passo na direção da equidade.
Não dá mais pra errar por ignorância
Se você chegou até aqui, parabéns! — você está um passo à frente da maioria.
Agora, a pergunta que fica é: o que você vai fazer com essa informação?
- Vai revisar a forma como fala sobre esses temas?
- Vai corrigir quando ouvir alguém confundindo os termos?
- Vai lutar por mais acessibilidade no seu ambiente de trabalho ou estudo?
Na Braine, a gente acredita que a mudança começa pela linguagem, mas não para por aí.
Por isso te convidamos a conhecer nosso blog e ler alguns dos nossos últimos artigos:
Saúde 5.0: A Revolução Humana e Tecnológica no Cuidado – Braine Digital
Por que só agora? O diagnóstico de autismo na vida adulta – Braine Digital