Você já se perguntou o por que de tantas pessoas neurodivergentes experimentarem mudanças de humor e variações emocionais tão recorrentemente? A resposta dessa pergunta é mais complexa do que você imagina e pode transformar a forma como você enxerga a neurodivergência.
Nesse dia Dia do Humor, celebramos o riso e a arte dos humoristas que buscam sempre cativar o público com piadas muito bem pensadas e preparadas antes do show. Mas imagine o seguinte cenário: você está em um show de standup de um humorista muito famoso, a piada é feita, e logo em seguida o riso vem, do nada, lágrimas invadem seus rosto e um silêncio profundo toma conta. Como explicar que um momento de extrema alegria se tornou motivo de lágrimas? Para alguma pessoas neurodivergentes, o humor vai além da piada — ele é uma resposta sensorial a uma série de influências externas e uma forma de adaptação ao mundo.
Vamos entender o que está por trás da neurodiversidade emocional?
Humor e Neurodivergência: o que isso tem a ver?
Oscilar entre risadas altas, picos de energia, introspecção e silêncio, são variações de humor comuns entre pessoas neurodivergentes. O diagnóstico de TDAH, autismo, dislexia entre outros, influenciam na regulação hormonal e emocional, principalmente na forma como o mundo é sentido por essas pessoas.
Mais do que “controlar” essas formas de se expressar, é necessário construir espaços onde elas não precisem reprimir esses sentimentos. Para pessoas neurodivergentes, o humor trabalha como um termômetro do ambiente, um código de leitura do que está (ou não) funcionando ao redor.
O que causa as variações de humor em neurodivergentes?
As variações de humor geralmente são respostas a estímulos hormonais e ambientais, que muitas vezes passam despercebido pelo olhar neurotípico. Os gatilhos mais comuns são:
- Sobrecarga sensorial e social
- Comunicação ambígua
- A quebra de rotina
- Muitos estímulos de uma só vez
- Ambientes considerados emocionalmente inseguros
O cérebro neurodivergente processa as emoções e os estímulos externos de diferentes maneiras — o que significa que o impacto de um acontecimento simples e cotidiano é muito mais incômodo. O que para uns é apenas barulho, para outros é um alerta de perigo.
Como ajudar durante uma crise:
As oscilações de humor são a expressão de um sistema nervoso que está atento e na procura de encontrar equilíbrio em lugares que, muitas vezes, não estão preparados para acolher a diversidade neurológica. Por isso, muitas vezes, essas pessoas passam por crises intensas em locais públicos e se veem sem saída, buscando ajuda de quem está por perto. As ações que podem ser tomadas durante uma crise são:
- Reduza estímulos: ambientes silenciosos com luz baixa auxiliam na estabilização emocional de uma pessoa em crise.
- Pergunte se a ajuda é bem vinda: “Eu posso ficar aqui com você?”, “Posso te ajudar?” e “Você prefere ficar sozinho agora?” são as melhores perguntas que podem ser feitas nesses momentos.
- Valide as emoções: Validar as emoções da pessoa em crise pode ajudá-la a se sentir compreendida e aos poucos ir estabilizando suas emoções.
- Trabalhe com a distração: Auxiliar no redirecionamento da atenção para atividades ou coisas que sejam do interesse da pessoa em crise é uma das melhores alternativas para aliviar o estresse.
- Não leve para o lado pessoal: É importante lembrar que durante um momento de crise, a pessoa não consegue gerenciar o que está sentido e como se expressar. Por isso, suas reações — muitas vezes intensas ou descontroladas — tendem a ser direcionadas justamente a quem está mais próximo, não por escolha, mas por proximidade.
- Priorize a segurança: A autolesão e o comportamento agressivo são comuns durante as crises. Por isso, torna-se necessário segurar suas mãos para que ela não machuque a si mesma ou outras pessoas.
Quando o ambiente adoece mais que o diagnóstico
Não é incomum que uma pessoa neurodivergente se questione: “Será que sou eu o problema?” E a resposta é não.
Lugares que concentram uma grande carga de pressão sobre as pessoas e que punem qualquer variação de humor que não siga a ‘norma’ do ambiente, são lugares de risco para a saúde mental de pessoas neurotípicas e atípicas. Em vez de trabalhar na formação de um ambiente que proporciona bem estar àqueles que ali estão, esses espaços reforçam a ideia de que só há uma forma “correta” de se sentir — e por tabela, de existir.
Pessoas neurodivergentes não vivem em desequilíbrio interno; elas apenas tem reações em ambientes considerados desregulados, barulhentos, acelerados e que pressionam. Quando as estruturas não se adaptam, o corpo grita e o humor oscila. Não como descontrole, mas como um alarme que avisa que algo está errado do lado de fora.
Incentivar a adaptação de locais públicos e ambientes profissionais para que se tornem locais mais inclcusivos é tão urgente quanto oferecer cuidado individual. Leia mais sobre isso no blog da Braine com o texto sobre Neurodivergência e Mercado de trabalho.
As variações de humor como aparato para pessoas neurodivergentes
Enquanto muitos ainda veem a variação de humor em pessoas neurodivergentes como uma “reação exagerada” ou “coisa de gente mimada” as pessoas neurodivergentes tentam lutar por mais lugares que as acolham e entedam que as variações de humor simplesmente representam o corpo tentando traduzir aquilo que a linguagem não dá conta de expressar.
Em contextos onde a leitura de normas sociais é um desafio constante, o humor também é uma forma de interpretar o que está acontecendo ao redor. Uma súbita irritação, por exemplo, pode apontar que há algo dissonante nas relações — mesmo que ninguém tenha verbalizado.
Como mudar sua atitude:
Neste Dia do Humor, a proposta é outra: rir sim, mas também pensar. O humor não precisa esconder a dor — ele pode revelar caminhos de cuidado e ajuda.
Se você quer entender mais sobre como criar ambientes emocionalmente seguros, desmistificar a neurodivergência e repensar as relações humanas com pessoas neurodivergentes, participe do evento organizado pela Braine nos dias 2 a 6 de junho – Encontro de Informação e Saúde: Neurodiversidade